Com açúcar, com afecto

Marcelo Rebelo de Sousa é o dono da sua própria vitória. Construiu-a ao longo de muito tempo, metódica e conscientemente. Olhando para trás, até parece que o fez desde sempre. Como na fábula da lebre e da tartaruga, deixou-se ficar para o fim, apareceu apenas quando a solução governativa de esquerda estava já à vista, e percorreu o país calmamente, quase em ascese, distribuindo açúcar e afecto como uma nova roupagem para o comentador sibilino que o país já tratava por tu pela televisão.

E assim, de mansinho, docemente, sem atacar os adversários nem se deixar colar pelo aparelho dos partidos da direita que nele recomendaram o voto, manteve uma distância higiénica em relação a Passos Coelho, a Paulo Portas, mas também a António Costa e todos os outros.

Marcelo encarnou aquilo que percebeu que faltava na política portuguesa: uma figura predominante ao centro, capaz de traçar a bissectriz entre a esquerda e a direita, entre o cinzentismo e o populismo, entre as elites e o povo. Foi essa a sua personagem em campanha eleitoral, mas nem por isso menos genuína. Marcelo é mesmo assim, capaz de muitas faces, capaz de fazer pontes, como fez durante três anos, quando presidiu ao PSD.

A segunda grande vencedora da noite foi Marisa Matias. A candidata do Bloco ganhou pela autenticidade, pela preparação, pelo humanismo, e consolidou a posição do partido como a terceira força política do momento, quando não se sabe ao certo quanto vale o CDS de per se. Marisa é o rosto de uma nova geração de políticos que pode mudar a forma de fazer política. Mas tem em comum com Marcelo a forma doce e afectuosa de chegar às pessoas. Ambos fazem acreditar que, também em política, o caminho mais curto para o sucesso faz-se pelo coração.

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