Líder socialista espanhol reitera que Rajoy não é uma pessoa "decente”

A seis dias das legislativas mais incertas de sempre, os líderes do PSOE e do PP enfrentaram-se num debate sem propostas novas e com palavras ofensivas.

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O aperto de mão da chegada não se repetiu no final Javier Sorano/AFP

Horas depois do mais violento frente a frente de que há memória na política espanhola, o líder do Partido Socialista Espanhol, Pedro Sánchez defendeu o tom com que atacou o primeiro-ministro. “Você não é decente”, afirmou o socialista entre acusações sobre corrupção. “Disse a Rajoy o que pensam milhões de espanhóis, e pensam isso com razão”, afirmou já esta terça-feira o candidato socialista.

Sánchez descreveu a legislatura que agora termina como “a da corrupção”, enumerando uma série de processos ligados aos populares e que tocam perto o presidente do Governo, como o chamado caso Barcenas (Luis Barcenas é o ex-tesoureiro do PP autor de uma contabilidade paralela no partido) e o Gürtel (processo que investiga pagamentos extras ilegais a governantes e no qual o caso Barcenas foi integrado).

Defendendo que Rajoy se devia ter demitido há dois anos por causa do caso Gürtel, Sánchez repetiu várias vezes que o primeiro-ministro “não é uma pessoa decente”. Depois da primeira, Rajoy fez uma pausa e exclamou: “Chagámos a isto”. “Você vai perder estas eleições. De uma derrota eleitoral uma pessoa recupera, mas você não vai recuperar desta frase ruim, foi mesquinho, atroz e miserável, nunca vai recuperar desta frase”, acrescentou o líder conservador.

No rescaldo, vários dirigentes populares chamaram “mal-educado” a Sánchez. A secretária-geral, María Dolores Cospedal, defendeu que Rajoy responde “à demagogia, mentira e soberta” com “dignidade política”. Os comentadores notaram a dureza da frase de Sánchez, mas também os adjectivos com que Rajoy respondeu.

Fora os insultos, os dois candidatos repetiram propostas já conhecidas e Rajoy seguiu a estratégia definida desde o início: apresentar dados económicos que indicam que o país está a recuperar e defender que o partido chegou ao poder quando Espanha (governada pelo PSOE) “era o doente” da Europa e estava à beira de pedir um empréstimo internacional para se financiar (Madrid pediu dinheiro para viabilizar bancos que estavam em risco). “Espanha superou os desequilíbrios e é entre os estados grandes da UE o que mais recupera”, disse.

O socialista tentou contrariar os dados com “a realidade”, apresentando testemunhos de quem não consegue viver com os cortes nas pensões e atacando a reforma laboral que Rajoy defende. O Governo do PP, diz Sánchez, “cortou em todos os direitos laborais e em tudo menos na corrupção no seu partido” e tem um balanço de “menos emprego, mais precário e com menos direitos”.

Este foi o único debate com Rajoy. Houve dois que juntaram Sánchez aos líderes dos dois novos partidos, Podemos, de Pablo Iglesias, e Cidadãos, liderado pelo catalão Albert Rivera, e vários onde estes dois últimos discutiram ideias. Aliás, mal terminava o debate entre o socialista e o líder conservador, Rivera e Iglesias surgiram noutro canal a comentar o debate e a declarar enterrado o “bipartidarismo”.

Com sondagens para todos os gostos (o PSOE surge em segundo, terceiro ou até quarto), a única constante é que o PP de Rajoy surge como primeiro partido, mas longe da maioria absoluta. Não haverá governo sem uma coligação e nenhuma analista arrisca exactamente dizer qual; PSOE e Cidadãos é a possibilidade mais sugerida, mas há sondagens em que os dois partidos não alcançam os 176 deputados necessários.

Tanto Rivera como Iglesias foram muito críticos do tom usado pelos líderes dos dois partidos tradicionais. “Creio que isto pode servir para mobilizar [os eleitores]. Pior não podemos fazer. Ganha-se quando se tem razão, não quando se insulta os outros”, disse Rivera, falando numa “época que se esgota” e num debate onde “não esteve metade de Espanha”. “Vimos um epílogo, um debate preso no passado. Que julguem as pessoas”, pediu Iglesias, antes de declarar que “o bipartidarismo já não existe”.

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