Operação taliban em Kandahar mata pelo menos 50 pessoas

Extremistas passaram por controlos de segurança e combateram polícia e exército durante um dia. É um novo sinal da força crescente dos taliban no Afeganistão.

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Uma das lojas atingida pelos taliban no seu ataque a Kandahar. Reuters

O último dos 11 combatentes taliban que tomaram um edifício na zona residencial da base aérea de Kandahar, no Afeganistão, foi abatido na noite da quarta-feira. É o fim de um ataque que durou mais de um dia e matou pelo menos 50 pessoas, entre militares afegãos, polícia e civis, segundo a contagem oficial do Governo. Alguns relatos, como o de responsáveis médicos à Al-Jazira, apontam mais alto, para a casa dos 70 mortos.

O ataque começou ao final da tarde de terça-feira, numa zona residencial e fortificada nas imediações da base aérea. Os extremistas, alegadamente disfarçados de soldados afegãos, armados com lançadores de rockets, granadas e espingardas automáticas, começaram por atacar uma coluna militar. Dispararam depois para lojas e casas, antes de se barricarem em pelo menos três edifícios escolares. Fizeram reféns. Entre eles uma família afegã que mais tarde mataram.

Passado mais de um dia de combates – e segundo os dados do Ministério da Defesa de Cabul –, os taliban mataram 38 civis, dez soldados e dois polícias. Mais de 30 pessoas ficaram feridas. É uma das operações mais sangrentas dos taliban nos últimos anos e um novo sinal de que os insurgentes islamistas ganham força no terreno, à medida que tropas estrangeiras reduzem a presença no país.

Kandahar é uma grande fortaleza, dividida em diferentes sectores. Vivem lá milhares de civis, comerciantes, consultores e soldados da NATO. Os extremistas não chegaram ao coração da base aérea e aos aviões da aliança militar, mas ocuparam edifícios de uma zona onde só poderiam ter entrado depois de vários controlos de estrada – daí dispararam granadas a zonas mais interiores na base, para quarteis das tropas norte-americanas, mas não fizeram feridos.

A invasão da base de Kandahar coincide com a viagem do Presidente afegão Ashraf Ghani ao vizinho Paquistão. Ghani quer ajuda para relançar o processo de negociação de paz com os taliban, interrompido depois da morte do líder e guia espiritual dos islamistas, o mullah Omar. Para além de travar os encontros entre Governo e combatentes – com o auxílio do Paquistão e apoio dos Estados Unidos e China –, a morte de Omar lançou os taliban numa luta interna de poder.

Horas depois do ataque ter começado, o grupo publicou um vídeo com imagens de dez combatentes taliban, vestidos com camuflados semelhantes aos usados pelo exército dos Estados Unidos. Um porta-voz dos islamistas afirmou que todos estavam armados com coletes explosivos. “Obama, não estás a salvo no Afeganistão”, alertava um dos homens no vídeo.

Já mais civis morreram em atentados no Afeganistão este ano do que em qualquer outro momento da invasão e ocupação da NATO, que ainda mantém alguns milhares de tropas no país, sobretudo para formar o exército afegão, mas também para conduzirem ataques aéreos e darem apoio em algumas operações militares. A violência é pior no Norte do país, o bastião tradicional de poder dos taliban. Em Novembro, pela primeira vez desde 2001, os taliban ocuparam por vários dias uma grande capital de província, Kunduz.

Há dezenas de milhares de afegãos em fuga do país. Tentam chegar à Europa e são um quinto das mais de 900 mil pessoas que atravessaram o Mediterrâneo só este ano. Isto apesar de a União Europeia não os considerar elegíveis para o seu programa de acolhimento de refugiados e de mesmo os países mais acolhedores, como a Alemanha, Áustria ou Suécia, já terem dito que vão começar a deportar afegãos.

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