Marisa Matias avisa que a Europa não sobrevive a uma "crise identitária"

Candidata presidencial e presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com os países do Maxereque teme que a "crise humanitária" que tem a ver com os refugidados possa pôr em causa o projecto europeu.

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Marisa Matias vai bater-se por uma segunda volta nas presidenciais Miguel Manso

A candidata presidencial do Bloco de Esquerda Marisa Matias está preocupada com a “falta de vontade política” da União Europeia em assumir as suas responsabilidades perante o fluxo de refugiados que varre a Europa e alertou para a eventualidade da UE não resistir enquanto projecto europeu se permitir que a “crise humanitária se transforme numa crise identitária”.

“Não sei se a UE conseguirá sobreviver enquanto projecto se transformar a crise humanitária numa crise identitária. Isso pode pôr em causa o projecto da UE tal como o conhecemos até agora”, declarou a eurodeputada, que preside à delegação do Parlamento Europeu (PE) para as relações com os países do Maxereque, que inclui o Líbano, a Jordânia, a Síria e o Egipto. Para Marisa Matias, “propostas como o registo de todos os passageiros ou discursos a defenderem a suspensão do espaço Schengen acicatam o medo e a chantagem, mas não trazem nada de novo e provocam um conflito do ponto de vista identitário e a uma crise identitária a União Europeia não resiste”.

A também candidata presidencial, que esta segunda-feira esteve no Porto, numa conferência sobre a “União Europeia e os refugiados” aludiu aos resultados da extrema-direita nas eleições regionais em França para mostrar a sua apreensão relativamente ao crescimento do “discurso racista e xenófobo por toda a Europa”. Acusando a UE de “tentar resolver o problema dos refugiados através de uma lógica de outsourcing”, a eurodeputada criticou a Europa por insistir em “não assumir as suas responsabilidades". "A Europa continua a fazer crer que este é um problema para o qual não tem meios disponíveis, quando o problema dos refugiados não se resolve por falta de vontade política”, afirmou.

Manifestou o seu desagrado pela UE apostar no “reforço das lógicas securitárias, no reforço dos nacionalismo e no reforço da criminalização dos fluxos migratórios” e perante uma plateia de estudantes universitários, na reitoria da Universidade do Porto, Marisa Matias insurgiu-se contra a “emergência de egoísmos nacionais”, considerando que a Europa não vai conseguir lidar com o problema dos refugiados enquanto “estes ficarem como que adjudicados aos países onde chegam”, sem que haja uma “resposta solitária”.

Afastando a ideia de que os refugiados “são uma ameaça”, a eurodeputada revelou que a “União Europeia enfrenta um desafio, mas um desafio que corresponde apenas a uma percentagem muito pequena de pessoas que se encontra na situação de refugiados a nível mundial”. Contas feitas, disse, “o número de pessoas que no último ano chegou à Europa não chega a 1% da população total da UE”.

Marisa Matias deu algum relevo “ao financiamento dos grupos terroristas que obrigam as pessoas a deslocar-se dos seus territórios” e considerou” lamentável que o negócio dos armamentos e do petróleo estejam sempre à frente da protecção da vida humana”. E deu um exemplo: “Propostas tão simples como uma moratória à venda de armas a grupos terroristas ou à compra de petróleo nos territórios ocupados por grupo terroristas nunca foi aprovada nas instituições europeias, nunca foi aprovada no Parlamento Europeu”.

Marisa não resistiu e disparou contra a França, acusando-a de “hipocrisia”. É que segundo disse, a “França, nos últimos anos, disputou os primeiros lugares no tipo de vendas de armamento à Arábia Saudita, quando se sabe que esta é um dos principais financiadores do Estado Islâmico”. “É preciso secar as fontes do Estado Islâmico. Não se honra mortos fazendo mais mortos”, decretou.

 

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