Sauditas apreendem barco iraniano com munições que iam para o Iémen

Duas potências regionais trocam acusações por causa do desastre de Meca e dos bombardeamentos contra milícias Houthi

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Manifestação em Teerão frente à embaixada da Arábia Saudita, em protesto contra o atraso na devolução dos iranianos mortos no hajj Raheb Homavandi/REUTERS

Riad e Teerão trocaram acusações e ameaças por causa do atraso na entrega dos corpos de vitimas iranianas do espezinhamento em Meca na semana passada, em que morreram perto de 800 pessoas, das quais 239 iranianos. Mas como se isso não bastasse, a tensão entre estas duas potências regionais foi aumentada pela apreensão de um barco de pesca iraniano que transportaria um carregamento de armas para os combatentes Houthi no Iémen por forças da coligação árabe, liderada pela Arábia Saudita, que os está a bombardear.

Embora Teerão sempre tenha negado apoiar as milícias da tribo Houthi, estes são xiitas, tal como os iranianos. A Arábia Saudita, e os outros países do Golfo Pérsico, são maioritariamente sunitas. Iniciaram uma campanha de bombardeamentos há mais de seis meses com o objectivo de repor o governo do Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi, deposto quando os Houthi tomaram a capital.

As monarquias do Golfo justificam ainda a sua acção no Iémen afirmando quererem impedir a formação de uma guerrilha poderosa financiada pelo Irão, como aconteceu com o Hezbollah no Líbano.

A apreensão do barco de pesca iraniana foi feita no sábado, mas só foi divulgada esta quarta-feira. A coligação árabe diz, em comunicado, que foram detidos 14 marinheiros iranianos, e que a embarcação transportava 18 morteiros anti-veículos blindados, 54 granadas anti-tanques, kits de baterias para munições e sistemas de orientações de munições. “O Comando da Coligação frustrou uma tentativa de contrabandear armas destinadas às milícias Houthi num barco de pesca iraniano”, diz o comunicado, citado pela Reuters.

Em Abril, o Conselho de Segurança da ONU adoptou uma resolução que impõe um embargo ao fornecimento de armas às forças revoltosas do Iémen. O Irão não fez qualquer comentário a este acontecimento, até agora.

Durante o dia, Teerão insistiu de forma veemente na necessidade de a Arábia Saudita repatriar rapidamente todas as vítimas do espezinhamento ocorrido durante o hajj, na semana passada, em Meca. Entre os 769 mortos das contas oficiais sauditas figuram 239 iranianos, e o guia supremo Ali Khamenei afirmou que “o Irão reagirá duramente” se Riad “não cumprir o seu dever” de devolver ao seu país os corpos dos peregrinos mortos.

Teerão acusou Riad de graves negligências na organização da grande peregrinação anual do mundo muçulmano – o assunto chegou mesmo à Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque. Segundo Khamenei, “os responsáveis sauditas não fizeram o seu dever e, nalguns casos, fizeram mesmo o contrário [do seu dever].”

A questão é que o repatriamento dos corpos dos iranianos está a demorar, enquanto Riad acusa Teerão de estar “ politizar” a catástrofe que pôs de luto a peregrinação religiosa. O clima entre os dois países está tenso também por causa da Síria. Na terça-feira, à margem dos discursos na Assembleia-Geral da ONU, o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros, Adel al-Jubeir, afirmou que “o Irão faz parte do problema e não pode fazer parte da solução”, relatou a AFP.

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