ONU aprova sanções e embargo de armas aos rebeldes huthis no Iémen

Medidas contra insurrectos aprovadas quando no terreno não há vencedores nem derrotados. Irão sugere plano de paz e um novo governo alargado em Sanaa.

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Casa atingida num ataque aéreo na capital do Iémen. "Há alvos pouco selectivos", comentou a ONU Khaled Abdullah/Reuters

A resolução da ONU impõe restrições de viagens e congelamento de bens ao líder huthi Abdul Malik al-Huthi e ao filho mais velho de Saleh, Ahmed. Segue-se a uma medida semelhante decidida em Novembro contra o comandante militar dos huthis, Abd al-Khalik al-Huthi, o seu número dois, Abdullah Hakim, e o antigo Presidente Saleh.

O texto agora aprovado vai mais além e impõe um embargo de armamento a estes cinco responsáveis e pede a todos os países, especialmente aos vizinhos do Iémen, para inspeccionar navios de carga com destino ao país se houver “motivos razoáveis” para achar que podem ter armas, diz o diário britânico The Guardian.

O Conselho de Segurança aprovou esta resolução, proposta pela Jordânia, com 14 votos a favor, zero contra, e a abstenção da Rússia. Moscovo tinha feito circular um projecto de resolução este mês para impor pausas humanitárias e defendia agora um embargo de armas a todas as partes do conflito, não apenas aos huthis e seus apoiantes.

Os huthis e os partidários do antigo Presidente mantêm o controlo em partes do território iemenita que tomaram apesar dos bombardeamentos da coligação liderada pela Arábia Saudita, que acusa o Irão de interferir e apoiar os rebeldes.

O Presidente Abd Mansour Hadi, que tomou posse após a saída de Saleh em 2012 (na sequência de um acordo de transição pós-primaveras árabes), continua em Riad, para onde foi no final do mês passado depois da capital do Iémen, Sanaa, ter ficado sob controlo dos huthis .

A ONU alerta para uma crescente crise humanitária no país que era já o mais pobre do Médio Oriente. “Mais de 600 pessoas foram mortas, mais de metade são civis. Isto é especialmente preocupante”, comentou o vice-secretário-geral para os direitos humanos, Ivan Simonovic, à emissora pan-árabe Al-Jazira. “Até agora podemos dizer com certeza que ambos os lados não estão a ser suficientemente contidos. Há alvos pouco selectivos e estamos preocupados com isso.”

Um dos principais pontos do conflito é Áden, no Sul, onde os bombardeamentos e batalhas deixaram partes da cidade em ruínas. Água, comida e electricidade são escassos.

A Arábia Saudita tem apresentado esta ofensiva como tendo como objectivo derrotar os huthis, xiitas, apoiados pelo Irão. A maioria dos analistas aponta, no entanto, que o factor decisivo para a força dos huthis não vem de Teerão mas sim das forças leais a Saleh (ironicamente, ambos foram inimigos durante o regime do antigo presidente).

O Irão – que nega apoiar os huthis – propôs pelo seu lado um plano de paz apelando ao fim dos ataques aéreos. O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, mencionou durante uma visita a Madrid uma proposta envolvendo um cessar-fogo, ajuda humanitária, diálogo entre facções iemenitas e um governo alargado. “Esta questão devia ser resolvida pelos iemenitas”, declarou. “O Irão e a Arábia Saudita têm de falar. Mas não podemos determinar o futuro do Iémen.”

A guerra no Iémen está cada vez mais a ser retratada como uma expressão de um conflito entre a Arábia Saudita, uma monarquia sunita, e o Irão, regime de religiosos xiitas.

No terreno, segundo a BBC, após três semanas de ataques “não há vencedores ou derrotados, a não ser que se conte a Al-Qaeda, que está a beneficiar com o caos no Leste do país”. 

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