Não vai ser fácil, a reunião de hoje dos ministros do Interior da União Europeia. Como se suspeitava, apesar das declaradas boas-vontades de muitos, a cadência imparável do fluxo de refugiados (compreensível, devido ao êxito de muitos deles e ao prometido bom acolhimento garantido por vários países europeus) levou até a paciente Alemanha a fechar temporariamente as fronteiras com a Áustria. Depois de Merkel se ter deixado fotografar, em selfies avulsas, com vários refugiados sírios, o governo alemão concluiu que para “arrumar a casa”, ou seja, para garantir condições dignas de acolhimento, teria de refrear o ritmo das chegadas. Dito de forma simples: o problema não é serem muitos, é virem demasiado depressa. Como explicar, no entanto, isto a quem chega? Como dizer que vai ser criado uma espécie de “limbo” pan-europeu de onde os refugiados sairão depois, a ritmo mais lento, para vários países de potencial acolhimento – e não apenas para a Alemanha, o nome que quase todos eles já têm em mente quando partem? Não será fácil. O desafio que hoje a Europa tem pela frente é, por um lado, tornar racional o fluxo migratório, e, por outro, garantir que o acolhimento não se transforme num caos para nenhuma das partes. O facto de, na Síria, haver indícios de que Assad poderá estar a perder a guerra, pode tentar o Ocidente a ver nele (como se escreve nesta edição), apesar do seu execrável papel como ditador em exercício num país em ruínas, parte da solução e não parte do problema. Por ilusória que seja esta saída, o papel da Síria não pode ser posto de lado. Se em parte do território fossem garantidas condições de vida para muitos dos que se vêem forçados a partir (e tantos não o fariam se a sua vida e a dos seus não estivesse em perigo), a situação seria outra. Enquanto isso não passa de fugaz miragem, há muitos milhares à espera. E a Europa tem de saber lidar com isso.