Reabriu a primeira localidade evacuada após o desastre de Fukushima

Naraha, a menos de 20 quilómetros da central nuclear que colapsou na sequência do terramoto e tsunami de Março de 2011, foi declarada livre de radiação. Mas menos de metade dos antigos 7400 habitantes está disposta a regressar.

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Uma cerimónia oficial reuniu milhares de pessoas que assinalavam o renascimento de Naraha. JIJI PRESS/AFP

Ao fim de quatro anos, os 7400 habitantes da aldeia japonesa de Naraha foram convidados este sábado a regressar a casa: aquela localidade é a primeira a ser oficialmente declarada segura depois de terminados os trabalhos de limpeza e descontaminação, após o desastre nuclear em Fukushima, provocado pelo terramoto e tsunami de Março de 2011.

Uma cerimónia oficial, que incluiu uma vigília e uma instalação de luz efémera criada com velas, reuniu milhares de pessoas que assinalavam o renascimento de Naraha. A aldeia, a meros 16 quilómetros da central nuclear de Daiichi, foi um de sete municípios que foram evacuados de emergência assim que se confirmou o colapso dos três reactores da unidade nuclear.

O levantamento da ordem de evacuação obrigatória “é um primeiro passo” para uma recuperação que será lenta, reconheceu o autarca de Naraha, Yukiei Matsumoto. “O nosso relógio parou e só agora vai recomeçar a funcionar”, referiu, dizendo que a sua expectativa é que os habitantes respondam ao desafio e regressem, fazendo da aldeia um “bom exemplo” a seguir pelas comunidades vizinhas – cerca de cem mil pessoas continuam afastadas das suas cidades, quatro anos e meio após o desastre de Fukushima.

No entanto, apesar das esperanças e garantias das autoridades, menos de metade dos antigos residentes de Naraha manifestaram intenção de voltar a casa: alguns consideravam que não valia a pena uma nova mudança, depois de terem encontrado emprego e instalado as suas famílias noutros locais; outros citavam a degradação das habitações e o isolamento da aldeia por causa da ausência de infraestruturas para se declarar “indecisos”; poucos admitiam que não se sentiam inteiramente seguros num lugar onde os níveis de radiação eram, até há pouco tempo, mortais.

Toshiko Yokota, de 53 anos, disse à Associated Press que o seu desejo era poder voltar a casa com o marido, mas que nas actuais condições esse projecto tinha de ser adiado. A estrutura da sua casa está seriamente comprometida após anos de abandono, informou: “Vai ser preciso um grande investimento para a recuperação.” Além disso, prefere esperar para ter a certeza que o risco de radiação está totalmente ultrapassado, e que todos os serviços básicos – de água, saúde ou transportes – voltam a estar disponíveis.

“A aldeia não parece a mesma, com tanta gente fora. Mas ainda é a minha aldeia, e é bom poder estar outra vez aqui”, confessou Yokota, que viajou para uma visita de reconhecimento e também para participar na cerimónia de reabertura.

Matsumoto tentou afastar os receios dos moradores, que terão direito a receber aparelhos individuais de medição do nível de radiação e terão acesso, em directo, aos dados da unidade de filtragem da água instalada na cidade. O autarca também disse que uma clínica médica deverá estar operacional já em Outubro, mas reconheceu que as obras de um novo hospital para servir a região só deverão estar concluídas em Fevereiro do próximo ano. Também no próximo ano deverá estar a funcionar um centro comercial, reforçando a oferta para os consumidores que para já apenas dispõem de um supermercado.

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