A clarividência de Merkel

Em vez de fogo de artifício na sua festa anual, uma cidade italiana vai lançar 49 balões brancos para o céu. É uma pequena homenagem aos migrantes que morreram na sua costa. Duzentos sobreviveram.

No mar europeu já morreram este ano duas mil pessoas. A ideia de que suspender o apoio no mar, inibiria os fluxos migratórios provou ser falsa. Durante os meses em que as operações europeias de socorro foram canceladas, a migração aumentou. Só à Grécia e a Itália chegaram, este ano, mais de 200 mil pessoas. Uma fracção mínima perante a imensidão de europeus. Segundo a ONU, mais de 60% vieram da Síria, Eritreia e Afeganistão. Três países em guerra. Esta crise humanitária não é uma crise como outra qualquer. Não ajuda pensar apenas que a Europa não pode abrir as portas a todos os pobres do mundo. Angela Merkel disse agora o que observadores atentos já disseram antes. Que a questão dos migrantes na União Europeia vai ocupar “bem mais” os europeus do que “a Grécia ou a estabilidade do euro”. É um reconhecimento da complexidade do problema. Mas é também antecipar no mínimo seis anos de debate sem soluções à vista.

Sugerir correcção
Comentar