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A grande travessia da Macedónia

A “Rota dos Balcãs Ocidentais” é hoje uma das perigosas vias dos imigrantes. A partir da Grécia, atravessam a Macedónia para chegar à Hungria e à UE

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O sentido da vida é cavalgar fronteiras”, escreveu um dia o jornalista polaco Ryszard Kapuscinski. Uma vezes por gosto da viagem. Outras por desespero. Hoje, num novo contexto internacional, há uma maré humana em movimento, um “êxodo bíblico” de dezenas de milhões de imigrantes económicos ou fugitivos de guerras —  11,7 milhões — homens, mulheres e crianças que tentam alcançar a Europa ou, pelo menos, um lugar que os acolha.

Os imigrantes que vêm da Líbia entram pela Itália, à custa de naufrágios que fizeram do Mediterrâneo um cemitério. Os Balcãs Ocidentais são a outra grande rota, em que a Macedónia é a derradeira e perigosa etapa antes de entrarem na Sérvia para chegarem à Hungria e à UE. Sonham com o “eldorado” da Europa do Norte, a Alemanha ou a Escandinávia. Concentram-se na Turquia, passam para a Grécia ou a Bulgária e dão o “salto” para a Macedónia. São sírios, afegãos, somalis e muitos outros. A Síria é hoje a “grande fábrica” de imigrantes. E a Itália e a Grécia são os dois maiores “depósitos” de clandestinos na Europa.

Eles atravessam a Macedónia a pé, seguindo de noite as linhas do comboio ou, os mais felizes, de bicicleta. Quando podem, assaltam literalmente os comboios. Outros seguem perigosas sendas nas montanhas guiados por passadores. No fim do percurso está quase concluído o novo “muro” húngaro que lhes vedará a passagem: 175 quilómetros de extensão, quatro metros de altura. Em 2015, até Julho, entraram na Hungria 57 mil “sem documentos”.

Correm riscos mortais. Em Abril, 14 imigrantes foram trucidados, de noite, por um comboio. A principal ameaça não é a polícia. São presa fácil de traficantes no país a que chamam “Mafiadónia”. Afegãos, marroquinos ou paquistaneses, ligados às máfias locais, despojam imigrantes. Outros são raptados por bandos que lhes exigem um resgate. A morte é anómima. Dizem: “Se morres aqui ninguém virá procurar notícias tuas.”

A jornalista italiana Alice Russoni fala numa nação invisível: “A nação não existe mas existem os seus cidadãos. Na fuga perderam não só a sua casa como o direito de cidadania.”