Falta de médicos ou falta de organização?

Maternidade de Faro suspende assistência a grávidas durante o Verão. O problema é estrutural?

A Federação Nacional dos Médicos fez nesta quarta-feira a inventariação de tudo o que acha que está a correr mal na Saúde e, em resumo, e segundo a estrutura sindical, quase tudo corre mal. É a “perda de poder salarial” da classe, são as condições de trabalho “indignas”, é a passagem dos hospitais para as Misericórdias, são as nomeações dos dirigentes nas vésperas de eleições, etc. Nalgumas queixas terá razão; noutras, nem por isso.

O mais alarmante são as contas da estrutura sindical, que mostram que mais de três mil médicos abandonaram o SNS desde 2011. Este êxodo é preocupante numa altura em que são cada vez mais as notícias de rupturas ou perturbações nos serviços por falta de pessoal. Ainda nesta quarta-feira, o PÚBLICO noticiava que o Centro Hospitalar do Algarve pediu aos centros de saúde para suspenderem o envio de grávidas durante o Verão, já que a maternidade de Faro estaria com falta de pessoal em Agosto e Setembro. A razão apontada para esta medida prende-se com o fim de um contrato de um especialista, situação agravada pela ausência de mais três médicas.

É um problema de falta de médicos ou um problema pontual de má organização dos serviços? Eventualmente, as duas coisas. Ainda há pouco tempo fomos surpreendidos por uma auditoria do Tribunal de Contas (TdC) que apontou o dedo aos gestores do Amadora-Sintra pela espera excessiva (em alguns casos de 28 horas) na urgência do hospital no último Natal e que se devia à “incapacidade dos órgãos de gestão em planear as escalas” numa altura de férias. Mas o TdC, nessa mesma auditoria, também reconhece o problema estrutural, e sugere, entre outras medidas, o aumento das vagas para Medicina. O problema de fundo, provavelmente, não será tanto o número de médicos, mas a sua distribuição e a falta de eficácia dos incentivos à mobilidade para que a procura não se concentre apenas em Lisboa, Porto e Coimbra.

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