Na última dança no Daily Show, Obama diz que “Jon Stewart não pode deixar o programa”

Presidente dos EUA vai “emitir uma ordem executiva para ordenar que Jon Stewart não pode deixar o programa”, brincou, três semanas antes da saída do apresentador com quem tem uma relação particular.

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O Daily Show não vai acabar, mas parece – e até o Presidente dos EUA brincou terça-feira à noite que vai “emitir uma ordem executiva para ordenar que Jon Stewart não pode deixar o programa” de sátira noticiosa que conduz há 17 anos. Barack Obama cumpriu a sua sétima presença no programa defendendo que nos próximos 18 meses, os últimos da sua presidência, quer ainda lidar com dossiers como o aquecimento global e com a questão dos combustíveis. E brincou: “finalmente sei o que estou a fazer”.

“Não acredito que se vai embora antes de mim”, brincou o Presidente norte-americano perante a iminência do fim do mandato de Stewart, a 6 de Agosto. Anunciada como “a última ida de Obama ao Daily Show”, na verdade esta é a última presença prevista do Presidente com Jon Stewart na cadeira de apresentador do mais influente programa do género. Isto porque o Daily Show prossegue com o sul-africano Trevor Noah já a 28 de Setembro. E Obama poderá sempre ir conhecer o novo comediante até ele próprio abandonar o seu mais importante cargo, visto que deixará a Casa Branca em Janeiro de 2017 após as eleições de Novembro de 2016.

Mas a ligação entre Obama e Stewart, figuras políticas de duas dimensões distintas mas igualmente mediáticas, parece insubstituível e por isso o encontro soou a balanço. “Uma história de amor”, resumiu o Los Angeles Times sobre os seus encontros e desencontros. Um oscila entre um tom amigável e o frustrado - em 2008, quando Obama foi eleito e um argumentista do Daily Show dizia ao New York Times "não é segredo onde nos situamos politicamente", havia um estado de graça; sete anos depois, algumas expectativas de Stewart e sua equipa foram goradas. Outro ocupa o seu habitual registo programático mas está mais confortável do que noutros espaços de entrevista. Jogaram a sua derradeira partida desde que se reuniram em estúdio pela primeira vez em 2005.

Terça-feira, brincaram sobre a candidatura de Donald Trump à presidência ou sobre “os media que se distraem com objectos brilhantes”. Dois homens que, como argumenta esta quarta-feira na revista Time o jornalista de política e colunista Philip Elliot, estavam “frente a um público mais jovem e mais liberal do que quase qualquer outro programa na televisão” americana. E que, defende ainda, estão unidos por um homem com o qual se indignaram – “Sem a frustração pública sobre [George W.] Bush e a sua execução da Guerra no Iraque conduzida pelos EUA, o Daily Show do comediante Jon Stewart não seria uma força cultural tão grande. E sem a mesma inquietação, Barack Obama teria provavelmente enfrentado uma ascensão mais dura do seu papel como um senador pouco conhecido do Illinois” até ao cargo maior da política americana. 

“Sente que, já com sete anos” na Casa Branca, começou a perguntar Stewart, para Obama atalhar, sorridente e retórico, “que finalmente sei o que estou a fazer?”. “Muito do trabalho que fizemos no início começa a dar frutos mais tarde”, diz, reconhecendo que “se melhora enquanto” se vive o cargo.

Na entrevista, que como é habitual para convidados de maior relevo tem a sua versão curta no ar e uma versão longa online, Obama foi confrontado como era esperado com o recente acordo sobre o nuclear do Irão. “De que lado é que estamos no Médio Oriente?”, perguntou Stewart, para logo continuar “Quem estamos a bombardear?”. Solene em alguns momentos, jocoso noutros, Obama comentou ainda sobre os críticos do acordo que se “maravilhou que eles parecem acreditar que ‘se tivesse trazido Dick Cheney [vice-presidente dos EUA de George W. Bush] para as negociações, tudo estaria bem’”.


Esta foi a quarta aparição de Obama no programa como Presidente – esteve à conversa com Stewart outras três vezes antes de ser eleito em 2008. A última presença do Presidente dos EUA no Daily Show, em plena campanha de reeleição, fora em Outubro de 2012. O tom dessa entrevista fora mais abrasivo da parte de Stewart, que desta vez voltou ainda assim ao tema dos veteranos de guerra e da forma como o Estado lhes tem falhado, com o Presidente a defender-se: “Se temos um governo que foi construído sobre modelos de 1930 e não é actualizado há décadas, vai haver uma lacuna” temporal até melhorar o seu funcionamento.

Criticou ainda uma lei passada pelo Congresso (dominado pelo Partido Republicano) sobre os impostos classificando-a como “mal-arranjada” e dizendo que os funcionários das Finanças a implementaram “pobre e estupidamente”. “Bem, você de facto só tem mais um ano” na Casa Branca, comentou Stewart sobre a franqueza das críticas do Presidente.

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