Eleições regionais italianas mostram Renzi cercado pelos populistas

Partido do primeiro-ministro perdeu um dos bastiões da esquerda e viu o 5 Estrelas tornar-se na segunda força política e o líder da Liga Norte a lançar-se na corrida às legislativas.

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Governo de Matteo Renzi terá maiores dificuldades a partir de agora Andreas Solaro / AFP

O Partido Democrático (PD) do primeiro-ministro, Matteo Renzi, venceu em cinco das sete regiões que no domingo foram a eleições. Apesar das vitórias, a perda de votos em termos gerais e o progresso dos partidos populistas preocupam o Governo italiano.

No quadro global, o PD recebeu 23,7% dos votos, seguido do movimento populista liderado pelo comediante Beppe Grillo, 5 Estrelas, com 18,4%, a Liga Norte, que defende uma agenda separatista para o Norte do país, com 12,5%, e o partido fundado por Silvio Berlusconi, o Força Itália, com 10,7%. Nas europeias de Maio do ano passado, o PD tinha alcançado cerca de 40% dos votos.

Os candidatos apoiados pelo partido de centro-esquerda asseguraram vitórias na maioria das regiões que foi a votos e o PD mantém-se no poder em 17 das 20 províncias italianas. Mas houve uma derrota em particular que deu um travo amargo à jornada eleitoral do partido de Renzi.

A perda da Ligúria (Noroeste), um bastião histórico da esquerda, ficou a dever-se a uma divisão no seio do PD, com uma facção rebelde a apoiar um candidato que concorria contra o oficial. A decepção levou mesmo Renzi a pronunciar-se sobre a situação.

“As políticas de facções não podem prevalecer sobre as do partido”, disse o primeiro-ministro ao Corriere della Sera. O episódio da Ligúria faz reavivar os fantasmas das lutas internas no PD. Renzi, que chegou à liderança do partido apoiado pela facção mais moderada, prometeu mão de ferro para lidar com as divisões no aparelho partidário. Quem acabou beneficiado foi o candidato do Força Itália, que deu a única vitória ao partido de Berlusconi, mas que apenas disfarça a irresistível queda da sua formação coincidente com o ocaso político do antigo primeiro-ministro.

As vitórias do PD nas regiões da Apúlia, Toscana, Marcas e Úmbria eram aguardadas, visto serem disputadas em regiões onde a esquerda tem tradicionalmente uma forte base de apoio. A conquista da Campânia foi a única notícia que permitiu ao PD um leitura positiva das eleições de domingo.

O Movimento 5 Estrelas – que ganhou força como movimento de contestação e que atingiu o ponto mais alto nas eleições legislativas de 2013 – assume-se como a segunda força política. À direita vislumbra-se o protagonismo crescente de outro partido anti-sistema, a Liga Norte.

O governador da região do Veneto (nordeste), Luca Zaia, foi confortavelmente reeleito e o partido alcançou bons resultados em regiões fora do seu âmbito tradicional. Na Toscana (centro) a Liga Norte foi o segundo partido mais votado e na Úmbria esteve perto de o conseguir. Com esta performance, a Liga Norte consegue, por um lado, afastar o Força Itália e assumir-se como o líder da direita e, por outro, enfraquecer o PD de Renzi.

Encorajado pelos bons resultados, o carismático e popular líder da Liga, Matteo Salvini, apostou numa leitura nacional das eleições e lançou um desafio directo ao primeiro-ministro, já a pensar nas legislativas de 2018. “Os eleitores que escolheram a Liga estão a escolher um movimento com coragem que eu acho que vai governar a Itália”, afirmou Salvini ao Canale 5. “A verdadeira alternativa ao Governo somos nós”, garantiu o líder da Liga Norte.

A imprensa italiana reflectia precisamente o panorama de um PD mais frágil e um governo – que chegou ao poder com uma agenda reformista e com o grande objectivo de fazer a economia italiana regressar ao crescimento – com uma missão dificultada. “A partir de agora será mais difícil para Renzi governar”, escrevia o diário La Stampa. “Nas eleições regionais, um stop para Renzi”, titulava, por seu turno, o jornal próximo do centro-esquerda La Repubblica. Esta segunda-feira, o primeiro-ministro encontrava-se no Afeganistão, longe do epicentro do abalo eleitoral, onde visitou as tropas italianas lá estacionadas.

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