Investidores em negociações de última hora para decidir se avançam para a TAP

Passos diz que sem privatização a TAP “não pode continuar" como está.

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Prazo para entregar propostas de compra termina às 17h de sexta-feira REUTERS/Rafael Marchante

Esta quinta-feira vai ser crucial para perceber que investidores vão realmente avançar para a compra da TAP e, sobretudo, em que moldes. Mas, a pouco mais de um dia da apresentação de ofertas, não há qualquer garantia de que a operação não caia por terra, como aconteceu em 2012. As contas da transportadora aérea, sobretudo a dívida que acumulou ao longo dos anos, e a instabilidade laboral que vive geram preocupação, assim com as incertezas em relação a um desfecho do negócio antes das próximas eleições legislativas.

Há dois candidatos que parecem estar mais activos: David Neeleman, dono da Azul, e Gérman Efromovich, que detém o grupo sul-americano Avianca, que tiverem direito a uma última reunião com o Governo para prestar esclarecimentos sobre a operação. Este último já tem todo o trabalho pronto para avançar, mas só tomará a decisão final na sexta-feira, quando terminar o prazo para apresentar as ofertas de compra. Também o empresário português Miguel Pais do Amaral continua na corrida, estando a tentar ultimar a proposta.

Já quanto à companhia de aviação brasileira Gol, que divulgou esta semana uma forte derrapagem no prejuízos, e as três capitais de risco que também assinaram um termo de confidencialidade para acederem a informação sobre a TAP não há quaisquer certezas. No limite, estas três empresas podem procurar ainda associar-se e apresentar uma proposta conjunta com um investidor estratégico (ou seja, que conheça a indústria da aviação).

Mas só mesmo quando terminar o prazo para a entrega de ofertas de compra, às 17h desta sexta-feira se saberá quem avança. Para o Governo, ter menos do que dois candidatos já será sinal de fracasso, já que sempre frisou que pretendia um processo mais competitivo (ao contrário da primeira tentativa de venda, que foi suspensa após a rejeição do único candidato, Gérman Efromovich).

No entanto, ao contrário da mensagem que o executivo tem vindo a passar, a instabilidade laboral que a TAP vive neste momento está a deixar alguns investidores preocupados. Um deles é o dono da Azul, David Neeleman, que ainda não decidiu se irá apresentar uma oferta pela companhia de aviação. O PÚBLICO sabe que o empresário, filho de norte-americanos mas nascido no Brasil, encara como um risco a sucessão de greves que a empresa tem enfrentado, nomeadamente a paralisação de dez dias convocada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), que ainda não deixou cair por completo a ameaça de novos protestos.

Há outras variáveis que fazem com que este empresário, que além da Azul fundou também a low cost norte-americana Jetblue, ainda não dê como certa a apresentação de uma oferta pela TAP. Em destaque está a elevada dívida e o investimento que será necessário para capitalizar e renovar a frota e a oferta da companhia de aviação nacional. Além disso, não é garantido que se consiga gerar retorno para minimizar o risco de apostar na empresa, cujo passivo ronda os 1062 milhões de euros e que tem capitais próprios negativos superiores a 500 milhões.

Ainda assim, Neeleman considera que a transportadora aérea pode ter um bom caminho pela frente, pela capacidade técnica, força de trabalho, situação geográfica e forte ligação ao Brasil, mas entende que será necessária uma cooperação entre todos (banca, trabalhadores, sindicatos e Governo) para que os planos futuros resultem.

O dono da Azul está em Lisboa para tomar uma decisão final sobre se concorre ou não à privatização da TAP. Um dos pontos importantes será o dos aliados que conseguir angariar. Ontem, o Diário Económico noticiou que o grupo português Barraqueiro (que tinha sido apontado como parceiro de Miguel Pais do Amaral, igualmente na corrida pela companhia de aviação) irá fazer parte do seu consórcio, mas não foi possível até ao momento confirmar esta informação.

Mas há muitas outras condicionantes que podem levar a um novo fracasso da venda da TAP. Uma das mais importantes é a posição do PS relativamente a esta privatização, já que o secretário-geral do partido veio afirmar que, se chegar ao poder, tudo fará para reverter o negócio. E nada garante que, mesmo que o Governo escolha rapidamente o vencedor, o contrato seja assinado antes do Outono, já que serão necessárias as devidas autorizações dos reguladores.

Esta quarta-feira, o primeiro-ministro defendeu que “o sucesso da privatização é importante para a companhia e para o país”, que “não é uma teimosia” do Governo e que o que está em causa é “salvar a empresa”. “Se não tivermos uma solução de privatização a companhia tal como está não pode continuar e não continuará”, vaticinou.

Pedro Passos Coelho admitiu que a greve “trouxe custos para a TAP e para e economia nacional”, perdas essas que pode continuar a sofrer “durante os próximos meses, pelo facto de muita gente ter achado que a reputação da empresa ficou afectada”. “Esse custo, não tenho dúvida, foi muito pesado para a empresa e influirá certamente naquilo que são as propostas que vão ser apresentadas”, disse. com Maria João Lopes

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