O metro de Lisboa não sabe falar inglês

Muito ainda está por fazer para que Lisboa se afirme como verdadeiro destino turístico internacional.

O ano de 2014 foi um ano-recorde para o turismo em Portugal, em particular para o turismo de Lisboa. Boas notícias não apenas por aquilo que isso representa em termos de receitas, mas também no que simboliza em termos de reconhecimento do país e da cidade.

Não obstante, naturalmente, muito ainda está por fazer para que Lisboa se afirme como verdadeiro destino turístico internacional. Uma das carências que recentemente chamou a minha atenção traduz-se na incapacidade do serviço de metropolitano para falar inglês. Em qualquer parte do mundo, o metropolitano constitui um serviço nuclear para os turistas, não só pela economia de custos que lhe está associada como pela simplicidade e facilidade nas deslocações para quem não domina a língua e não conhece a fisionomia da cidade. Nessa medida, aquilo que qualquer turista espera de um serviço de metropolitano é que a sua utilização se mostre fácil e intuitiva, o que implica que o mesmo consiga fornecer as informações básicas essenciais. E é aqui que começam as fragilidades.

Na verdade, salvo alguma falha de observação que me seja imputável, o metro de Lisboa só sabe praticamente escrever Red Line, Yellow Line, Blue Line, Green Line e no smokers e legendar meia dúzia de pictogramas. E não sabe dizer muito mais do que take care of your belongings e pay special attention when entering or exiting the train. Ao metro de Lisboa falta aprender a dizer the next stop is e aprender a escrever exit, next train e waiting time. Falta-lhe aprender a escrever para os turistas, no verso dos títulos de transporte, que os mesmos são recarregáveis e válidos durante um ano e que o comprovativo de carregamento deve ser guardado para eventuais anomalias futuras. Falta-lhe outrossim informar em linguagem perceptível aos turistas que, para sua segurança, as carruagens dispõem de videovigilância. Falta-lhe ainda saber dizer que, no Saldanha, a Linha Vermelha tem correspondência com a Linha Amarela.

Existe, portanto, um conjunto de indicações básicas que qualquer turista procura quando circula num sistema de metropolitano e que, no caso de Lisboa, não estão traduzidas para a língua inglesa, mas que fariam considerável diferença na segurança e conforto de quem visita a cidade. Desconheço se o actual estado das coisas resulta da distracção de quem chefia ou administra, se de um certo preconceito ou conservadorismo que leva a que se entenda que a cidade não se deve subjugar aos interesses turísticos ao ponto de perder a sua identidade cultural. A primeira justificação parece-me reprovável; a segunda mostra-se-me provinciana. Efectivamente, creio que Lisboa respiraria um clima mais cosmopolita e internacional quando, depois de sabermos qual é a próxima estação, também pudéssemos conhecer qual é a next stop.

Assessor jurídico no Governo da RAEM (Região Administrativa Especial de Macau)

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