O tempo da “mão estendida” aos credores ficou lá atrás, diz Portas

Vice-primeiro-ministro lança farpas ao Governo grego e diz que sempre criticou o “excesso de poder” da troika.

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Paulo Portas, vice-primeiro-ministro, participa na Lisbon Summit. Daniel Rocha

O contraponto com as posições do Governo grego foi permanente. Quando, na manhã desta terça-feira, Paulo Portas abriu a conferência Lisbon Summit, organizada pela revista britânica The Economist, tinha uma mensagem preparada para repetir à plateia engravatada: fazer o balanço da governação desde 2011 e concluir que o país está “melhor do que estava há um ano”, quando o vice-primeiro-ministro esteve ali, no mesmo palco, a falar numa altura em que o fim do resgate da troika ainda não era uma certeza. A mensagem estava lá: distanciar Portugal da Grécia e traçar uma linha entre o “pragmatismo” e a “utopia”.

Primeiro, as alusões implícitas ao caso grego. “Basicamente, a acção política é uma escolha entre alternativas viáveis e uma lide permanente com o realismo e com a realidade. Não acho desejável para o bom governo das nações que a acção política seja baseada na utopia”, começou por afirmar Paulo Portas, que viria a fazer uma separação entre dois tempos: o da troika e o do pós-troika.

Portas disse haver uma “grande diferença” entre o tempo em que Portugal ia de “mão estendida aos credores” e o tempo em que Portugal lida “de cabeça erguida” com os credores.

Depois, vieram as farpas. E as comparações continuaram. “Nós não parámos o processo de privatizações”, disse. O combate à fraude, à evasão fiscal e à economia paralela foram, desde o início, uma prioridade do Governo, lembrou.

E, numa clara alusão à semântica usada pelo Governo grego para falar do fim da troika, Portas chegou a referir-se ironicamente às “instituições formalmente conhecidas como troika”. Mais tarde, numa conversa descontraída com John Andrews, editor da Economist, lembraria que sempre criticou o “excesso de poder” dos “burocratas” da missão do Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia.

Foi aí, entre perguntas e respostas que levavam a conversa a discutir os temas do dia, que a Grécia veio à mesa de forma explícita. “Portugal não é a Grécia. São situações diferentes”, referiu o vice-primeiro-ministro, exemplificando com o facto de Portugal ter tido apenas um resgate e de suportar taxas de juro mais baixas que lhe permitem ir ao mercado financiar-se.

Sobre as negociações entre a Grécia e a zona euro, Paulo Portas rejeitou a ideia de o Governo estar a isolar aquele parceiro da moeda única. O lugar da Grécia é na zona euro, afirmou, garantindo que Portugal foi parte do consenso que resultou no acordo de sexta-feira no Eurogrupo. E ironizou: “Não sou grego, não sou alemão, sou português e europeu”.

A Portas viria a dar razão o secretário-geral adjunto do Partido Popular Europeu, ao qual pertencem o PSD e o CDS-PP. Portugal, afirmou Christian Kremer, “é um caso completamente diferente” porque o Governo tomou acções no sentido de redução do défice e para aumentar a competitividade da economia.

Antes, a abrir a conferência, a decorrer num hotel em Cascais, Paulo Portas recuou no tempo para referir uma “lista impressiva” de reformas que diz colocarem Portugal numa situação, financeira e económica, melhor. “Perdemos demasiada competitividade durante demasiados anos”. E os países que não fazem reformas ficam no mesmo sítio onde estavam, salientou.

“Portugal aproveitou uma crise, repito, que foi significativa e dolorosa, para fazer reformas e tomar medidas que preparassem melhor o país para uma economia globalmente exigente e competitiva”, referindo as alterações na legislação laboral, a reforma do IRC ou o combate à fraude e à evasão fiscal.

Portas falou ainda das exportações, para lembrar que as vendas ao exterior, “apesar do crescimento tímido da zona euro, voltaram a crescer em 2014”. E lembrou as incertezas levantadas há um ano sobre a capacidade exportadora da economia portuguesa, criticando quem tinha essas dúvidas por estar em “gabinetes”, não teve uma empresa e “não pagou salários”. Portas reconheceu os “factores críticos no ambiente externo”, mas insistiu: “No que depende de Portugal, estamos melhor do que há um ano”.

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