Pujehun faz história ao ser a primeira zona da Serra Leoa sem ébola

Exemplo devolve esperança ao país que soma 9780 doentes e 2943 mortes, na maior epidemia de sempre da doença.

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A Serra Leoa, a Libéria e a Guiné-Conacri são os países mais afectados pelo surto ZOOM DOSSO/AFP

Com 42 dias seguidos sem qualquer registo de novos casos de infecção pelo vírus do ébola, o distrito de Pujehun, no sudeste da Serra Leoa, entrou para a história como a primeira zona de um dos três países mais afectados pela epidemia a ficar livre da doença.

O ébola, que tinha chegado a Pujehun em Agosto, deixou um balanço de 31 casos e 26 mortes naquela região, segundo o diário britânico The Guardian. As autoridades de saúde da Serra Leoa, perante a inexistência de novos casos de ébola em Pujehun desde o final de Novembro, decidiram levantar as medidas de isolamento e quarentena a que a zona que faz fronteira com a Libéria estava sujeita.

A meta de dias livres da doença para se poder declarar o fim da epidemia num local é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Na sexta-feira, também o novo responsável pela missão das Nações Unidas contra a doença, numa visita ao país, reconheceu que o caminho trilhado está a ser positivo. “A Serra Leoa está hoje melhor capacitada para controlar o Ébola do que há poucas semanas”, assegurou Ismail Ould Cheikh Ahmed, a partir de Freetown, citado pelas agências internacionais.

Para trás, Pujehun deixa um período em que todos os mercados estiveram fechados e em que as actividades sociais, nomeadamente os encontros em igrejas e mesquitas, foram interditos – o que motivou fortes protestos na população, com ameaças de morte ao autarca local, Sadiq Silla, descreve o The Guardian. As medidas foram tomadas antes do próprio presidente da Serra Leoa ter activado um plano nacional, com especial dificuldade em ser implementado durante as comemorações do Natal e Ano Novo, altura em que o país assiste a grandes movimentações de cristãos, apesar de ser de maioria muçulmana.

Perante a agressividade da doença, os que a combatem na antiga colónia britânica recebem as novidades de Pujehun com contenção. “Devemos receber este marco com cuidado, assim como com esperança. Temos ainda um longo caminho a percorrer para inverter o curso do ébola na Serra Leoa”, defendeu ao mesmo jornal Nik Hartley, responsável por uma organização britânica de caridade com mais de 70 pessoas no terreno. Porém, como salienta Hartley, continua a existir o risco real de se importarem novos casos, seja da Libéria ou de outras zonas da Serra Leoa que ainda lutam com o vírus.

Ainda assim, os motivos de esperança parecem espalhar-se. Na zona oriental do país, um distrito vizinho de Kailahun, centro da epidemia durante o Verão, também está há 27 dias sem novos casos. A notícia chega numa altura em que a epidemia já fez quase 10 mil infecções na Serra Leoa, com perto 3000 óbitos. Ao mesmo tempo, a OMS anunciou que tem planos para começar nas próximas semanas um ensaio em massa de vacinas contra a doença nos três países mais afectados - Serra Leoa, Libéria e Guiné-Conacry -, com um total de 37 mil participantes na fase 3 do ensaio, a que envolve voluntários saudáveis. Por agora a vacina ainda enfrenta a fase 1 e que está a ser desenvolvida no Canadá.

O balanço mais recente da OMS, feito a 7 de Janeiro, indica que quase 21 mil pessoas foram infectadas com o vírus do ébola nos três países da África Ocidental mais afectados, e que 8235 morreram. Os dados apontam a Serra Leoa como o país com mais casos, um total de 9780, sendo 2943 mortais. Já a Libéria registou um abrandamento na velocidade a que o vírus se propaga, contando 8157 casos, 3496 deles mortais. Na Guiné-Conacri, a OMS registou 2775 casos, 1781 deles mortais. Fora destes três países mais fortemente atacados pela doença, o número de casos mortais mantêm-se igual: seis no Mali, oito na Nigéria e um nos Estados Unidos.

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