Oposição contesta

Os partidos da oposição manifestaram-se contra as palavras de Ano novo de Cavaco Silva.

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António Costa vai acompanhar todas as jornadas ao lado do líder parlamentar, Ferro Rodrigues Enric Vives-Rubio

O PS considerou que a mensagem não reflecte "preocupações, decepções e mesmo desespero" de grande parte dos portugueses, e é marcada por um "défice de imparcialidade" em ano de eleições.

"Estamos de acordo [o PS] com a necessidade de combater o populismo, mas o populismo em todos os seus aspectos, e também estamos de acordo com a necessidade de evitar situações de crispação ou de tensão política desnecessária", disse à agência Lusa o líder parlamentar dos socialistas.

No entanto, para Eduardo Ferro Rodrigues, "a lógica da mensagem do Presidente da República é uma lógica de excessiva colagem a aspectos essenciais das políticas que foram determinadas pela maioria que governa Portugal desde 2011 e não ecoou suficientemente as preocupações, as decepções e mesmo o desespero de muita gente, de uma parte grande do povo português".

"Apesar de eu pensar que é uma mensagem bem intencionada, não há dúvida que há um défice de imparcialidade num ano destes que é de eleições", referiu o político.

Para Ferro Rodrigues, "seria absolutamente essencial a garantia de uma total imparcialidade do órgão de Presidente da República face às eleições que se vão realizar em 2015 e a contribuição para a coesão nacional na base da maximização da coesão social e do máximo consenso político possível".

E do ponto de vista do PS, "a intervenção do Presidente da República ficou a alguma distância destes imperativos".

Transmitindo os votos de que 2015 seja o melhor possível para todos os portugueses, desejo que estendeu a Aníbal Cavaco Silva e sua família, Ferro Rodrigues realçou que esta é a última mensagem de Ano Novo que o Presidente da República faz nesta legislatura.

Por isso, segundo este político, "seria absolutamente normal que fizesse um balanço e em primeiro lugar que demonstrasse a necessidade de assumir a profunda decepção que as portuguesas e os portugueses têm com o sistema onde o Presidente da República ocupa a função principal na hierarquia de Estado e que enfrenta hoje uma séria crise, tanto ao nível executivo como parlamentar como judicial".

O líder parlamentar recordou o apelo que o PS faz à mudança política nas próximas eleições legislativas e referiu que o partido vai visitar todos os grupos parlamentares para apresentar uma agenda para a década e um compromisso estratégico para a qualificação e contra as políticas de empobrecimento do actual Governo.

PCP: “conjunto de mistificações”
Já PCP classificou a mensagem do Presidente da República como um recorrente "conjunto de mistificações", acusando Cavaco Silva de tentar ocultar a sua própria responsabilidade na "desgraça" do país.

"A mensagem do Presidente não traz nada de novo nem de positivo, nem para o país nem para a imensa maioria dos portugueses. Mais uma vez, e é recorrente, trata-se de um conjunto de mistificações para apoiar a continuação e o agravamento da política de direita que tem sido seguida há 38 anos pelo PS, PSD e CDS", disse à agência Lusa Carlos Gonçalves, da comissão política do Comité Central do PCP.

O dirigente comunista disse que a mensagem do PR contém três mistificações: a primeira, frisou, é a "tentativa da ocultação da responsabilidade de Cavaco Silva na desgraça do país".

"Cavaco fala como se não tivesses sido 10 anos primeiro-ministro e como se não fosse há quase 10 anos Presidente da República. É evidente que ele é seguramente um dos maiores responsáveis pela situação que vivemos", alegou Carlos Gonçalves.

A segunda mistificação é o "apelo ao compromisso futuro de PS, PSD e CDS", patente, de acordo com o PCP, na mensagem do Presidente da República, "como se não fosse esse compromisso a base da política de direita e a causa do empobrecimento, da exploração, do desemprego, destruição dos serviços públicos" e também da degradação da democracia e perda de elementos de soberania.

A última mistificação, segundo Carlos Gonçalves, passa pela "insistência num mesmo caminho e numa mesma política, como se isso fosse uma inevitabilidade, uma espécie de fatalidade".

"Antes pelo contrário, pensamos que é cada vez mais imperioso e necessário a demissão do Governo, a realização de eleições antecipadas, a rotura com a política de direita e uma alternativa patriótica de esquerda", disse o dirigente comunista.

BE: alinhada com Governo
O Bloco de Esquerda criticou a mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva por ser alinhada com o discurso do governo e revelar cumplicidade nas politicas de austeridade e agravamento da pobreza, ao "blindar o tratado orçamental".

“A mensagem de Ano Novo do presidente Cavaco Silva é uma mensagem política completamente alinhada com o governo de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas”, disse Luís Fazenda em declarações à Lusa.

O BE considera que “há uma cumplicidade fundamental nas políticas que estão a levar a cabo - de austeridade e de agravamento da pobreza – e o Presidente da República, no seu último ano de mandato, quer salvaguardar a continuidade dessas políticas e por isso blinda o tratado orçamental”.

Luís Fazenda critica Cavaco Silva por considerar que o tratado orçamental não pode ser alterado: “Sabemos que, neste ano, vários países centrais da União Europeia não vão cumprir o tratado orçamental mas o Presidente da República insiste no cumprimento do tratado orçamental. Nessa medida, é preciso alterar esta política, é preciso uma mudança na vida nacional e essa mudança não passa por Cavaco Silva nem pela atual maioria”.

Para o Bloco, “é preciso mudar de política e é preciso mudar de protagonistas”.

PSD rejeita ilusões de facilitismo
O PSD, por sua vez, defendeu que a necessidade de se manter o rumo e de se rejeitar ilusões de facilitismo, sublinhando que os grandes desafios que Portugal tem pela frente exigem "consensos significativos".

"O PSD acolhe e revê-se no essencial da mensagem de Ano Novo do Presidente da República, partilhando a sua confiança num ano melhor para os portugueses. Mas, o PSD ressalva também, como faz o Presidente da República, a necessidade de se manter o rumo seguido até aqui, rejeitando a ilusão de que tudo está feito e que o país terá entrado numa nova fase de facilitismos", afirmou o secretário-geral do PSD, José Matos Rosa.

Numa declaração aos jornalistas na sede do partido, sem direito a perguntas, o secretário-geral do PSD lembrou que, apesar dos resultados já alcançados, Portugal apresenta ainda "desafios muito exigentes", com as grandes questões nacionais a ultrapassarem em muito "o mero ciclo eleitoral".

Por isso, preconizou, os problemas devem ser encarados com "exigência, abertura e espírito de cooperação por todas as forças políticas, sem tacticismos, sem populismo e sem eleitoralismos vãos".

"Os grandes desafios que temos pela frente exigem consensos significativos, condição indispensável para os ultrapassarmos, de forma sustentada e num horizonte de tempo alargado. Independentemente dos compromissos eleitorais, 2015 deve ficar marcado como o ano dos consensos que permitam definitivamente a Portugal afirmar-se como uma democracia moderna e eficaz", disse José Matos Rosa.

Na declaração lida aos jornalistas imediatamente a seguir à transmissão da mensagem de Ano Novo do Presidente da República, o secretário-geral social-democrata recordou brevemente os "anos difíceis, de enorme intensidade e exigência" que os portugueses têm vivido e alguns dos resultados já alcançados na economia ou na redução do desemprego.

"Estamos convencidos que o novo ano, apesar de exigente, vai ser melhor que os anteriores e que as recentes conquistas financeiras, económicas e sociais serão reforçadas e consolidadas", acrescentou.

 CDS: Escolha é entre “quem entregou” Portugal à troika e quem o “libertou”
O CDS-PP considerou que "o que está em causa em 2015" é a escolha entre "quem levou Portugal à pré-bancarrota" e quem "precisamente libertou" o país da 'troika', disse o vice-presidente dos centristas, Nuno Melo.

"Eu acrescentaria, não interpretando a mensagem do presidente da República, nessa diferença do Portugal de 2011 e o Portugal de 2015, a escolha de quem nos trouxe à pré-bancarrota, um programa de austeridade muito duro e quem em 2014 precisamente libertou Portugal dessa 'troika'. É isso que vai estar em causa em 2015", disse Nuno Melo.

O vice-presidente do CDS-PP destacou na sua intervenção "em matéria de crescimento e emprego, bem como consolidação orçamental e controlo da dívida" três principais vectores: "o aproveitamento dos fundos europeus", o plano Juncker e a descida do IRC como relevantíssimo para as empresas.

Sobre "políticas de compromissos", Nuno Melo disse que "o CDS, e certamente também o PSD, tem apelado insistentemente para em áreas fundamentais se estabelecerem compromissos", não descartando aquele que é "o maior partido da oposição, o Partido Socialista".

"Essa disponibilidade mantém-se tal e qual foi bem evidente no ano que findou e nos tempos que antecederam este ano", disse Melo.

Mas quando questionado, após a sua intervenção sobre anúncios de possíveis coligações para futuros actos eleitorais, o dirigente procurou não se comprometer sobre a possibilidade de voltar a existir uma união à Direita e disse que "o timing será aquele que as direcções dos dois partidos entenderem", referindo-se ao PSD e CDS-PP.

"O que o senhor presidente diz é que os consensos não se conseguem apenas após as eleições (?). O apelo aos compromissos é um apelo em relação a quem desempenha funções de Governo, como a quem hoje tem a função de ser oposição", analisou Nuno Melo sobre a possibilidade de Cavaco Silva ter enviado um "recado" aos partidos.

Em matéria de corrupção, o vice-presidente do CDS-PP afirmou que "casos relativos à justiça, francamente não o "incomodam nada", e depois de ressalvar que "não comenta casos judiciais em curso", acrescentou que "os mesmos que querem o combate à corrupção, muitas vezes indignam-se quando esse combate é efectivo".


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