Agentes da PSP reclamam pausa para refeição durante a patrulha das ruas

Sindicato denuncia que alguns polícias apanhados a comer já foram alvo de processo disciplinar por os turnos com mais de seis horas não terem intervalo. PSP garante que horários "estão de acordo com regras legais".

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Polícias exigem intervalo para refeições nos turnos com menos de oito horas PÚBLICO (arquivo)

Os agentes da PSP exigem ter uma pausa para refeição nos turnos com menos de oito horas, nomeadamente nas patrulhas das ruas e no policiamento de proximidade nos bairros. Esses agentes trabalham pelo menos seis horas sem intervalo para alimentação, denunciou o Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol) e confirmou o PÚBLICO junto de alguns agentes.

Os comandantes das esquadras permitem há vários anos pausas para alimentação, mas a atitude terá recentemente sofrido alterações, nomeadamente em alguns postos de Lisboa.

“Temos conhecimento de processos disciplinares a agentes que estavam a comer em serviço. Está em causa a sua saúde e a sua capacidade. Como é que não têm direito a comer?”, questiona o presidente do Sinapol, Armando Ferreira.

O sindicato enviou recentemente um ofício à Direcção Nacional da PSP expondo a situação. No documento, ao qual o PÚBLICO teve acesso, o Sinapol aponta que “apenas os horários da PSP, com oito ou mais horas de trabalho” têm “pausa para alimentação” e “em alguns casos” este “é apenas de 30 minutos”. Por isso, defende para os diferentes turnos pausas entre a 15 a 60 minutos.

A estrutura diz que pediu “pareceres médicos, psicológicos e jurídicos”. “Mais de cinco horas seguidas sem comer ou beber são prejudiciais para a saúde dos seres humanos - a privação por longas horas” afecta “o desempenho cognitivo e mental" e o "exercício da profissão de polícia” que fica assim “fortemente comprometido”, salienta o Sinapol.

O Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas (RCTFP) obriga a um intervalo para descanso “de duração não inferior a uma hora” de modo a “que os trabalhadores não prestem mais de cinco horas de trabalho consecutivo”. O Ministério da Administração Interna remeteu respostas para a PSP.

A Direcção Nacional da PSP, que diz estar a analisar a resposta ao ofício, garantiu que as “matrizes de turnos de serviço relativas à prestação de trabalho na PSP estão de acordo com as regras legais e foram oportunamente trabalhadas com os sindicatos”. Não confirmou nem desmentiu a ausência de pausa nos turnos nem os alegados processos disciplinares. 

“Esses turnos não têm formalmente uma pausa para a refeição. As chefias sempre foram facilitando, mas não passa pela cabeça de ninguém isso não estar estabelecido”, defendeu o presidente do Sindicato de Profissionais de Polícia, Mário Andrade. Alguns agentes do Porto disseram ao PÚBLICO que naquela cidade a questão não se coloca, uma vez que para as chefias o direito à pausa é inquestionável.

A situação também se verifica na GNR. Mas esta “rege-se por leis militares, pelo que o RCTFP não se aplica. O problema da pausa, na GNR, verifica-se mais nos pequenos postos”, referiu o presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, César Nogueira. Já José Alho, presidente da Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda, lembra que os “guardas que trabalham no trânsito não têm intervalo para refeição”. O PÚBLICO tentou sem sucesso obter uma reacção da GNR.

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