Israelitas e palestinianos culpam-se mutuamente pela violência em Jerusalém

Carro conduzido por palestiniano sai da estrada e atropela peões no centro da cidade. Polícia diz que condutor era militante do Hamas.

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O Governo israelita ordenou um reforço do policiamente na cidade Menahem Kahana/AFP

A morte de uma recém-nascida, descrita como um “atentado terrorista” pelas autoridades israelitas, veio aprofundar ainda mais a tensão vivida em Jerusalém nos últimos meses. Israelitas e palestinianos já começaram a culpar-se mutuamente.

Um bebé de três meses morreu e oito pessoas ficaram feridas, uma dos quais com gravidade, quando, nesta quarta-feira, um carro conduzido por um palestiniano saiu de estrada e abalroou um grupo de pessoas numa paragem do metro de superfície em Jerusalém, num incidente que a polícia israelita diz ter sido um “ataque terrorista”. O acidente ocorreu em plena linha verde, a divisória que separa as zonas leste e oeste da cidade.

O condutor do automóvel, identificado como Abdel-Rahman al-Shaludi, de 21 anos e residente no bairro de maioria palestiniana de Silwan, foi baleado pela polícia, alegadamente quando tentava fugir a pé do local. Acabaria por morrer algumas horas depois no hospital.

A vítima mortal do ataque, uma menina de três meses chamada Chaya Zissel Braun, tinha nacionalidade norte-americana, tal como os pais, também feridos no ataque. Uma mulher de 20 anos está em estado considerado crítico. Um vídeo de segurança mostra o carro conduzido por Shaludi a sair da estrada, guinando à direita e entrando no passeio onde passageiros do metro de superfície acabavam de desembarcar. Testemunhas contam que o veículo atirou ao ar o carrinho do bebé, que foi projectado, e continuou a atropelar pessoas até embater num poste.

“Podemos confirmar que se tratou de um ataque terrorista”, afirmou o porta-voz da polícia israelita, Micky Rosenfeld, adiantando que Shaludi “cumpriu pena na prisão por actividades terroristas”. Fontes policiais adiantam que era militante do Hamas e esteve várias vezes preso por diferentes acusações, incluindo preparação de cocktails-Molotov.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, responsabilizou o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, pelo sucedido. “É assim que os parceiros de governo de Abu Mazen [nome pelo qual o líder palestiniano é conhecido na região] actuam”, afirmou, referindo-se ao executivo de unidade formado entre a Fatah e o Hamas, movimento islamista que não reconhece o Estado de Israel.

A Autoridade Palestiniana culpa o Governo israelita de estar na origem dos episódios de violência em Jerusalém. O porta-voz Abu Rudeineh acusou Israel de estar a promover o domínio judaico sobre a cidade considerada sagrada por muçulmanos e judeus. Em causa está a oposição da Autoridade Palestiniana à entrada de judeus no Monte do Templo, onde se situa a mesquita de Al-Aqsa, um dos locais mais importantes para o Islão e vedado a todos os não muçulmanos. Na semana passada, Abbas apelou aos palestinianos a utilizarem “todos os meios” para impedirem os “colonos” judeus de acederem ao monte – que é também um local de adoração para a religião judaica.

O porta-voz do Hamas, Mushir al-Masri, congratulou o atentado descrevendo-o como “uma operação ousada”, mas uma “resposta natural aos crimes de ocupação” de Israel.

Netanyahu ordenou o reforço da segurança em Jerusalém, onde a tensão permanece elevada desde os confrontos que antecederam a ofensiva de 50 dias lançada pelo Exército israelita contra a Faixa de Gaza — depois de três adolescentes israelitas terem sido sequestrados e mortos na Cisjordânia, um jovem palestiniano foi raptado na cidade e o seu corpo foi encontrado carbonizado. 

“Há meses que o digo, a situação em Jerusalém é intolerável e devemos agir inequivocamente contra toda a violência na cidade”, afirmou o primeiro-ministro israelita, anunciando que o reforço passará também pelo envio de mais forças de segurança “para os bairros onde há distúrbios”.

Após o anoitecer houve confrontos entre a polícia e manifestantes em várias zonas da cidade, incluindo Silwan, um bairro palestiniano de Jerusalém Oriental onde se têm repetido protestos contra a recente chegada de colonos judeus. A polícia acabaria por deter um irmão de Shaludi, de 15 anos, adianta a edição do jornal Ha’aretz.

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