Cisão do BES deixou administração do Hospital de Loures sem saber se teria dinheiro para salários

Administrador hospitalar confessa que houve dias difíceis em Agosto e que "pensava que [o GES] era um grupo de gente séria". Realça que a Espírito Santo Saúde “era o único activo saudável do GES” e daí despertar tanto interesse em investidores.

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O relatório dá nota negativa ao atendimento nas urgências, com 26% dos atendimentos em 2013 a excederem os tempos máximos recomendados Foto: Daniel Rocha

Foram dias difíceis, aqueles primeiros de Agosto. Com o anúncio da cisão do BES em banco mau e Novo Banco e o respectivo congelamento das contas bancárias de todo o universo do Grupo Espírito Santo, a administração e a direcção do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, ficaram sem saber onde poderiam ir buscar dinheiro para pagar os salários desse mês aos funcionários e saldar facturas de fornecedores.

 
“Vou ser completamente sincero: em Agosto temi que não tivéssemos dinheiro para pagar os ordenados. Porque tudo o que era Espírito Santo no nome foi para o banco mau. E eu vi a conta desta sociedade gestora, que é detida pela Espírito Santo Saúde, no banco mau. E no banco mau a gente só mexe numa conta com a autorização do Banco de Portugal”, contou o administrador executivo da SGHL – Sociedade Gestora do Hospital de Loures aos deputados do PCP durante uma visita àquela unidade hospitalar, integrada nas jornadas parlamentares.

“Até dia 15 ou 16 de Agosto, andámos ‘ó tio, ó tio, onde é que a gente vai buscar o dinheiro porque não nos deixam levantar do banco mau para pagar os ordenados’”, acrescentou Artur Vaz, quando questionado pelo líder parlamentar, João Oliveira sobre as consequências da crise do BES na gestão daquele hospital que é uma PPP – Parceria Público-Privada do Grupo Espírito Santo Saúde. O Banco de Portugal anunciou a cisão do BES e o plano de recapitalização do banco a 3 de Agosto.

“Foi de facto um aperto muito grande. Resolvida essa questão, tudo está absolutamente normalizado”, afirmou o administrador, garantindo que acabou por não haver nem ordenados nem facturas em atraso. A SGHL é uma sociedade detida a 99,98% pela Espírito Santo Saúde.

Depois de se conhecer o que se passou no GES, Artur Vaz diz que a Espírito Santo Saúde (EES) “era o único activo saudável do GES”, daí todo o interesse que a empresa ESS gerou em investidores internacionais. E desabafou: “Antes também pensava que aquilo era um grupo de gente séria e gente normal….”

Admitindo que tem um futuro comprador preferido, mas sem o querer revelar, Artur Vaz diz estar convicto que independentemente de quer for “não vai alterar rigorosamente nada” na gestão do Hospital de Loures. “Temos uma cultura de serviço público e de seriedade que não se vai alterar sejam os chineses, mexicanos, americanos, mellos, remellos, seja o que for que venha para aqui”, afirmou. Até porque, realçaria depois aos jornalistas no final da visita, “a filosofia do hospital está plasmada no contrato de gestão: é um hospital público, do SNS. A cultura da ESS vai-se manter independentemente do accionista que venha a comprar a sociedade.”

Mas seria importante que quem quer que seja, que venha depressa. Porque “só pode dar uma coisa boa em troca daquilo que há nesta altura: estabilidade”. “A gente não tem estabilidade porque os nossos accionistas estão falidos ou estão sob protecção de credores, dependem de uma juíza no Luxemburgo.”

Apesar disso, Artur Vaz diz que não notou “qualquer consequência” do caso BES na imagem do hospital junto dos utentes ou da equipa e que “a sociedade gestora conseguiu passar incólume” à polémica.


 

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