Jerónimo acusa Cavaco de ter “grandes culpas no cartório e na situação do país”

Na abertura das jornadas parlamentares, o líder comunista apontou o dedo à “cegueira ideológica” do Governo, e às declarações “evasivas e equívocas” de António Costa.

Foto
Miguel Manso

De forma mais clara ou mais indirecta, Jerónimo de Sousa não poupou críticas a ninguém. Do Presidente ao futuro líder do PS, passando pelo Governo e banqueiros do BES, todos tiveram espaço no discurso muito crítico do líder comunista na abertura das jornadas parlamentares do PCP que se realizam estas segunda e terça-feiras em Loures.

O Presidente da República tem “grandes culpas no cartório e na situação em que o país se encontra”. O Governo está absorto numa “cegueira ideológica, acção destruidora e insensibilidade social e humana”. O PS e António Costa falam de “mudança e de ruptura com as políticas europeia e nacional dominantes” mas refugiam-se em “declarações e formulações evasivas e equívocas” a ajudam a aprovar políticas como a reforma do IRC. Jerónimo não se cansou de distribuir epítetos.

O líder do PCP realçou que “quatro meses depois da saída formal da troika nada muda e tudo entrou em acelerada degradação, desorganização e a desestabilização da nossa vida colectiva” e o país está “nas mãos de uma espécie de aprendizes de feiticeiro”.

Jerónimo de Sousa foi buscar dois exemplos bem frescos para o demonstrar. Recordou o “verdadeiro escândalo” da presença no Fórum Algarve, lado a lado, de Pedro Passos Coelho e José Maria Ricciardi, com este último a “ser tratado como banqueiro impoluto e a perorar sobre a justeza das medidas do Governo para o BES”. O que se passou no GES e no banco, acrescentou Jerónimo de Sousa, “é bem o resultado de uma política de favorecimento da especulação, das negociatas, do enriquecimento injustificado, de extorsão sistemática de recursos do país e dos portugueses”.

O comunista recordou ainda as declarações de Cavaco Silva nas comemorações da implantação da República, que culpou os partidos e a organização do sistema político pela insatisfação dos portugueses com a democracia. Jerónimo fez questão de vincar que o Presidente “tem grandes culpas no cartório e na situação em que o país se encontra”.

Criticou as “manobras de diversão e falsas soluções que escondem os velhos objectivos anti-democráticos” como as tentativas de alterar a legislação eleitoral, ou sobre financiamento e funcionamento partidário. Que só servirão para “pôr em causa a independência” dos partidos e para reduzir o número de deputados – o que irá prejudicar sobretudo os pequenos partidos.

Do Governo maldisse, entre outras questões, a “acção corrosiva” das suas políticas, demonstradas pelos problemas no início do ano lectivo com a falta de professores e funcionários, pelo caos na justiça provocado pela implementação do novo mapa judiciário e encerramento de tribunais, pelos sucessivos casos de fala de resposta nas entidades do Serviço Nacional de Saúde.

O dedo apontado a António Costa surgiu quando Jerónimo de Sousa recordou a recente proposta do PCP com “medidas desenvolvidas de renegociação da dívida, estudo e preparação de uma saída do euro e a recuperação do controlo público da banca”. Uma proposta directa, calendarizada, que “confronta com as suas responsabilidades todos os que, falando de mudança e de ruptura com as políticas europeia e nacional dominantes, se refugiam em declarações e formulações evasivas e equívocas a pensar deixar ficar tudo na mesma”, afirmou, numa clara alusão ao facto de o candidato socialista a primeiro-ministro nunca ter dito o que se deve fazer em relação à dívida.

Falando sobre o trabalho das jornadas, o líder comunista prometeu que o partido apresentará uma proposta de uma fiscalidade “socialmente mais justa e com maior capacidade de assegurar o necessário financiamento do Estado”.

Sugerir correcção
Ler 15 comentários