Governo de Hong Kong quer pôr fim aos protestos até segunda-feira

Estudantes avançam com mais uma proposta de diálogo. Manifestantes dizem a Pequim que não está em curso uma revolução. Dezenas de milhares de pessoas nas ruas. O território chinês está no fio da navalha.

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Há cada vez mais manifestantes no bairro financeiro, junto ao qual está a sede do governo Philippe Lopez/AFP
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Os manifestantes exigem eleições totalmente democráticas em 2017 Philippe Lopez/AFP
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Grupos exteriores ao protesto atacaram os manifestantes Philippe Lopez/AFP
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Polícia confirma que entre os detidos há membros da máfia chinesa XAUME OLLEROS/AFP
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Os líderes estudantis Joshua Wong (à esquerda) e Alex Chow ALEX OGLE/AFP

Pode ser na noite deste sábado. Pode ser domingo. Mas o governo de Hong Kong vai pôr fim ao protesto pró-democracia que, desde há uma semana, paraliza a vida neste território chinês. Um sinal de que poderá haver uma acção policial surgiu numa declaração do chefe do governo local, Leung Chun-ying, que anunciou que os edifícios públicos e as escolas "têm de" reabrir na segunda-feira.

Outro sinal surgiu no Diário do Povo, jornal do Partido Comunista Chinês, onde ontem foi declarado apoio à polícia de Hong Kong e, pela primeira vez, a revolta neste território foi tratada como um problema político, não apenas de segurança — qualquer ideia de importar “uma revolução colorida” para a China continental a partir de Hong Kong é “pura fantasia”, lê-se no jornal onde se defende o uso de gás lacrimogéneo contra os manifestantes. “Face aos manifestantes que ignoram as ordens da polícia, que se precipitam para transgredir os cordões de segurança, e que querem atingir os polícias com os seus guarda-chuvas (...) a polícia não tem outra alternativa senão usar o gás lacrimogéneo”.

Pequim receia o efeito de contaminação da revolta de Hong Kong a outros territórios, mas tem hesitado na estratégia a aplicar para travar a contestação.

A certeza de que algo se preparava veio do antigo deputado do Partido Democrático de Hong Kong Law Chi-Kwong, que, falando para os líderes da contestação — o movimento Occupy Central e associações de estudantes universitários e de liceu —, disse que os manifestantes estavam “numa situação muito perigosa” que devia ser resolvida “com brevidade”.

O protesto decorre em vários bairros, mas os organizadores convocaram os apoiantes para uma grande concentração, esta noite, no Admiralty, o centro financeiro do território e onde está a sede do governo. Ao Admiralty afluiram dezenas de milhares de pessoas. “Paz. Não à violência”, gritaram os manifestantes.

Benny Tai, do Occupy Central, falou à multidão e respondeu ao Governo de Pequim: “Isto não é, de todo, uma revolução”, é “um movimento iniciado pela sociedade civil”.

Já os estudantes mostraram que ouviram as palavras do ex-deputado do Partido Democrático. Já passava da meia-noite de sábado e a Federação de Estudantes emitiu um comunicado propondo o regresso ao diálogo mas com condições: recusam falar com Leung, cuja demissão exigem há vários dias, e exigem uma investigação à actuação da polícia.

O protesto que começou há uma semana tem na sua origem a eleição do próximo chefe do governo, em 2017. O Governo de Pequim aceitou a realização — pela primeira vez no território — de eleições por sufrágio universal, mas escolhendo os candidatos. A campanha de desobediência civil contra esta decisão começou a 22 de Setembro e agudizou dias depois, quando os manifestantes cercaram a sede do governo e a polícia respondeu com gás lacrimogéneo. A multidão não dispersou. Pelo contrário, o protesto ganhou dimensão.

A contestação forçou o encerramento dos serviços da administração pública, de lojas, de restaurantes. Apesar de queixas por parte de alguma população e dos comerciantes, o protesto manteve-se pacífico até sexta-feira, quando grupos organizados atacaram os activistas. O Occupy Central denunciou tratar-se de elementos da máfia chinesa pagos pelas autoridades (de Hong Kong e de Pequim) para gerarem a violência e justificarem a repressão. E acusou a polícia de ter ficado de braços cruzados perante a acção destes grupos.

“Um grupo de homens e mulheres atacaram-nos e destruíram os nossos mantimentos. Tive medo que ferissem os estudantes, mas eles disseram-me para não ter medo porque  se ficássemos todos juntos nos protegeríamos uns aos outros”, disse ontem uma manifestante ouvida pelo jornal independente de Hong Kong South China Morning Post.
Sábado, a polícia deteve 19 pessoas ligadas aos actos de violência que, na sexta-feira, levaram os líderes estudantis a cancelar um anunciado encontro com representantes do governo. Entre os detidos, e segundo as próprias autoridades, estão oito suspeitos de pertencerem às tríades.

O governo local ainda não respondeu ao novo apelo de diálogo dos estudantes, que anteriormente disseram pretender discutir apenas um ponto: o processo eleitoral de 2017. Um tema que Leung já disse não ser negociável.

Hong Kong estava, sábado à noite, no fio da navalha, com os manifestantes irredutíveis e Leung a ter que decidir o que fazer perante o mar de gente que se concentrou à porta da sede do seu governo.

   


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