Estudantes cancelam diálogo com governo em Hong Kong

Nas ruas da grande praça financeira surgiram grupos organizados violentos para provocar os manifestantes.

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Manifestantes pró-eleições livres protegem um abarricada de um grupo de contra-manifestantes Philippe Lopez/AFP
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Houve tensão entre os que queriam ir trabalhar os manifestantes Philippe Lopez/AFP
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Um manifestante que não queria desistir do protesto Philippe Lopez/AFP

Os estudantes de Hong Kong que há uma semana exigem nas ruas eleições democráticas no território, cancelaram a sua participação numa reunião com o governo local. A decisão foi justificada com a má fé das autoridades que, dizem os estudantes, permitiram que grupos violentos organizados atacassem, esta sexta-feira, os manifestantes.

Em comunicado, a Federação dos Estudantes de Hong Kong diz que perante o que aconteceu nas ruas, não tem outra alternativa a não ser cancelar a sua participação num diálogo, que aliás foi iniciativa sua.. "O governo e a polícia fecharam os olhos enquanto as tríades atacaram violentamente os que se manifestavam pacificamente".

Um encontro em que se discutiria o modelo eleitoral foi proposto pela Federação dos Estudantes na quarta-feira à noite, pouco tempo antes de terminar o prazo que deram ao chefe do governo local, CY Leung, para se demitir. Se o governante não abandonasse o cargo, os estudantes iriam ocupar os edifícios governamentais.

Leung não se demitiu mas aceitou o diálogo e designou uma responsável do executivo, Carrie Lam, como interlocutora dos estudantes. Mas não marcou a data do encontro.

Esta sexta-feira, porém, realizou-se uma primeira reunião exploratória entre representantes do governo e membros da organização do protesto - além da Federação, o movimento Occupy Central e o Scholarism (estudantes do ensino secundário). Correu mal, segundo o relato do jornal de Hong Kong South China Morning News

Na origem do protesto que começou há uma semana - e que mantém bloqueadas algumas das principais artérias e bairros de Hong Kong - está a eleição, em 2017, do próximo chefe do governo. Pequim cumpriu o acordo feito com o Reino Unido, quando recebeu o território de volta, em 1997, de realizar eleições por sufrágio universal, mas em Agosto anunciou que será o Govenro central a escolher os candidatos. O Occupy Central e os estudantes mobilizaram-se para exigir um processo eleitoral realmente democrático. Cy Leung disse estar disposto a dialogar, mas segundo as determinações do Governo central. Não houve qualquer sinal de cedência por parte dos interlocutores na reunião preparatória (a demissão de Leung voltou a ser rejeitada pelas autoridades), como não havia grade optimismo para o encontro com Lam, que os estudantes cancelaram agora.

"As hipóteses de Pequim voltar atrás na decisão [sobre a escolha dos candidatos] são muito, muito baixas", disse ao Financial Times o analista político Zhang Xuezhong, da Universidade Normal da China Oriental.

O problema volta, desta forma, à estaca zero, com a agravante de a tensão nas ruas ter aumentado substancialmente nesta sexta-feira, com o surgimento de contra-manifestações e dos grupos violentos. Pelo menos numa das zonas bloqueadas pelos manifestantes, Mong Kok, um dos lugares mais movimentados do mundo - o centro do comércio de luxo, repleto de bares e restaurantes -, um grupo de mil pessoas com os rostos cobertos por máscaras aproximou-se dos manifestantes e agrediram-nos, segundo as agências noticiosas AFP e Reuters. O jornalista do Guardian no local relatou que os agressores atiraram garrafas e cuspiram contra os que lá estavam. "Voltem para Pequim", gritaram os manifestantes, alguns dizendo que as autoridades alugaram uma multidão violenta para perturbar o protesto.

CY Leung, que dera ordem aos funcionários públicos para se apresentarem ao trabalho esta sexta-feira (depois de dois dias feriados), optou por manter os edifícios governamentais fechados, pedindo às chefias para pedirem aos colaboradores que trabalhem em casa.

O seu objectivo - e o do Governo central em Pequim - é a diluição do protesto, evitando usar a polícia para desfazer as manifestações. Só desta forma, dizem os analistas, Pequim conseguirá sustentar a tese de que o que se passa em Hong Kong é um problema de segurança, não um problema político. 

Num novo comunicado em que não separa os manifestantes pró-democracia dos grupos violentos que surgiram nas ruas esta sexta-feira, o governo de Hong Kong expressa essa visão: "O comportamento dos que participam neste protesto é ilegal, totalmente desprovido de razão e desumano, é pior do que o mais radical activismo social e é completamente anárquico. Actos sem sentido para impedir a polícia e outros funcionários públicos de fazerem o seu trabalho não serão tolerados".
 

   





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