Al-Qaeda anuncia criação do ramo indiano para levar a jihad ao Sul da Ásia

Grupo islamista radical tenta recuperar terreno ao Estado Islâmico, que já marca presença no Paquistão. Governo declara alerta de segurança em vários estados.

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Ayman al-Zawahiri incitou a nação muçulmana a fazer renascer o califado AFP

O líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, anunciou a criação de um ramo indiano para "levar a bandeira da jihad ao Sul da Ásia". Jihad significa guerra santa.

O anúncio da criação da Qaedat al-Jihad foi feito através de um vídeo de 55 minutos em que Al-Zawahiri diz que este novo ramo deverá prestar obediência à liderança do Mullah Omar, o líder dos taliban afegãos.

Os analistas viram neste anúncio uma tentativa do grupo relançar a sua campanha perante o risco de perderem terreno e protagonismo para o Estado Islâmico, o grupo jihadista que proclamou um Califado nos territórios que conquistou no Iraque e na Síria. "[A Al-Qaeda] é uma entidade formada para promulgar o chamamento do iman Osama bin Laden. Que Alá tenha piedade dele", disse Al-Zawahiri, que para anunciar o nascimento da Al-Qaeda "do sub-continente indiano" usou a língua árabe (a sua) e o urdu (falado em regiões do Paquistão).

Incitou a "umma" (a nação muçulmana) a "fazer a jihad contra os inimigos, a libertar a sua terra, a restaurar a soberania e a fazer renascer o seu califado". No vídeo, surge um mapa de satélite mostrando parte da Ásia, o Médio Oriente, o subcontinente indiano e o Corno de África.

A "Al-Qaeda no sub-continente indiano" apela à acção dos muçulmanos da Birmânia, do Bangladesh e dos estados indianos de Assam, Gujarat, Jammu e Cachemira, para serem salvos da injustiça e da opressão, disse Ayman al-Zawahiri.

O chefe deste novo ramo é o paquistanês Asim Umar, uma figura pouco conhecida mas que aparece nos vídeos de propaganda da Al-Qaeda e também nos do Tehreek-e-Taliban paquistanês, o reagrupamento das facções islamistas em guerra contra o Governo de Islamabad, que acusam de pactuar com a guerra contra o terrorismo dos Estados Unidos e de não aplicar a sharia, a lei islâmica.

“Por que razão os muçulmanos da Índia estão totalmente ausentes da jihad?”, questionava Umar num vídeo datado do ano passado. O First Post, da Índia, diz que Umar é um dos dois principais líderes da Al-Qaeda no Sul da Ásia e define-o sobretudo como um propagandista do grupo terrorista. Citando um relatório do Wilson Center, diz que a primeira vez que o novo líder regional surge num vídeo é para comemorar o 11.º aniversário dos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos. Noutro vídeo, surge a pedir um impulso na “jihad global capaz de destruir o edifício da América”. Umar também tem um livro: “O exército do anti-cristo: os atentados terroristas da América nos estados islâmicos”.

Um porta-voz do Bharatiya Janata Party (BJP, no poder, Narenda Modi é o primeiro-ministro) disse à Associated Press que o anúncio é "matéria de grande preocupação" para a Índia. "Mas não devemos ficar alarmados. Temos um Governo forte a nível federal", disse o porta-voz.

Pouco depois, o Governo indiano emitiu um alerta de segurança em vários estados. E fontes dos serviços secretos disseram à BBC que as palavras de Al-Zawahiri são, de momento, consideradas mais como uma intenção do que uma realidade já no terreno, também se destinam a iniciar um recrutamento - as fontes reconheceram que este apelo pode ser bem recebido junto de parte da população mais jovem.

Até ao momento, explica a BBC, não há sinais da presença da Al-Qaeda na Índia, apesar de haver grupos islamistas, sobretudo em Cachemira, onde estão relacionados com os separatistas, tendo alguns laços ténues com a Al-Qaeda no Paquistão.  

No Paquistão, a presença do Estado Ialâmico já foi detectada - na quarta-feira simpatizantes paquistaneses do EI distribuiram na cidade de Peshawar panfletos em que o grupo pede apoio para o Califado.


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