Afonso Dhlakama compromete-se a reconhecer o resultado das eleições gerais de Outubro

Após a assinatura do acordo de cessar-fogo, o líder da Renamo diz que o seu partido vai ganhar as eleições e que ele vai ser o próximo chefe de Estado.

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O líder da Renamo diz que vai vencer as eleições gerais em Moçambique e ser o próximo Presidente Reuters

O líder da Renamo comprometeu-se a reconhecer os resultados das eleições de 15 de Outubro (locais, legislativas e presidenciais) - o que acontecerá pela primeira vez na história da democracia moçambicana -, acreditando que a nova lei eleitoral é credível e garante uma votação transparente.

"Com certeza", respondeu numa entrevista telefónica. "Por isso, andámos a lutar por uma lei credível, para permitir que as coisas sejam transparentes", declarou quando questionado se, após a alteração da lei eleitoral, no âmbito das negociações da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) com o Governo, o maior partido de oposição reconhecerá os resultados em qualquer cenário.

"Se todos os moçambicanos e os partidos seguirem as regras da lei eleitoral, quem vier a ganhar as eleições, mesmo que seja um partido pequenino, queremos ser os primeiros a reconhecer a derrota", afirmou Dhlakama, que espera, porém, a sua vitória nas presidenciais e a do seu partido nas legislativas e assembleias provinciais.

A Renamo conseguiu em Fevereiro uma alteração legislativa para aumentar o peso da oposição na composição dos órgãos eleitorais e vigilância em todas as mesas de voto nas eleições, o primeiro dos consensos com o Governo até à assinatura, no domingo, de um cessar-fogo para o fim dos confrontos militares que duram há um ano e meio.

"Quando a lei não está boa, isso permite a um partido colocar os seus militantes na mesa e os outros sejam amarrados e agredidos", afirmou o presidente da Renamo, mas no futuro, prosseguiu, "a todos, mesmo aos partidos pequenos, deve ser permitido que tenham os seus representantes [nas assembleias de voto], porque é uma luta. A prova dos nove é ali".

A partir de agora, segundo o líder da oposição, "é despejar, contar e dar a vitória a alguém, não um cesto de boletins pré-assinalados, e quando as pessoas queriam reclamar eram agarradas e levadas para a cadeia".

Dhlakama acredita que o cessar-fogo assinado no domingo e os documentos do acordo com o Governo têm condições para ser duradouros, até porque espera que sejam transformados em leis na Assembleia da República. "É a isto que chamamos garantias. Não só para Dhlakama e para os moçambicanos, mas mesmo para os estrangeiros que querem investir em Moçambique e vão procurar saber se a guerra já acabou e se os acordos foram transformados em leis", disse o líder da oposição, vincando também as diferenças em relação ao Acordo Geral de Paz, assinado em 1992 com o então Presidente Joaquim Chissano.

Na altura, "deu-se eco, com Chissano a receber medalhas e tudo, mas a Frelimo [partido no poder] continuou a fazer desmandos, a atacar, a roubar votos e não havia clareza, embora houvesse protocolos, e até os intelectuais moçambicanos tinham dificuldade em interpretar o Acordo Geral de Paz, o que é diferente destes documentos". Agora, frisou, "está tudo claro".

O líder da Renamo disse esperar obter (e dar) essas garantias quando se encontrar com o Presidente Armando Gebuza, que deixa o poder em Ourubro. "Esse encontro é muito importante para mim e para o próprio Presidente da República, porque ele vai deixar o poder."

Dhlakama disse que, no encontro entre os dois líderes, ainda por marcar, exigirá garantias de que o Presidente deixe instruções, no fim do seu mandato, à Frelimo, para preservar o acordo de cessar-fogo e o entendimento com o Governo, salientando que "foi sempre a Frelimo que atacou a Renamo e violou os acordos".

"Quero que ele diga que doravante essas coisas vão parar", declarou o líder da oposição, que se mantém no seu refúgio na serra da Gorongosa, no centro do país, e de onde espera sair brevemente, após a transformação dos acordos em leis.

O Presidente moçambicano, disse Dhlakama, também quererá garantias para o período posterior às eleições. "Ele poderá pensar que Dhlakama vai vingar-se dos dirigentes da Frelimo e eu também tenho de dizer a ele, como Presidente da República, que não - ‘Irmão, o passado é o passado, fica na História, agora vamos olhar para a frente’", disse o presidente da Renamo, assegurando que a tentativa de assassínio de que diz ter sido alvo, no ataque à sua residência em Satungira, na Gorongosa, a 21 de Outubro do ano passado, está ultrapassada. "A guerra é mesmo assim e ele [Guebuza] também precisa de ouvir da minha boca garantias para o futuro dele".

O fim da crise do último ano e meio entre as duas partes, motivada inicialmente por divergências sobre a lei eleitoral e depois sobre a composição das Forças de Defesa e Segurança, deve também "encorajar os investidores estrangeiros e nacionais". "São dois líderes que se abraçam, o que significa que é um acto de reconciliação" que encerra um período em que a imagem do país ficou "manchada".

Dhlakama não avançou quando abandonará o local onde se encontra, dizendo que está a analisar se sairá para Maputo, para Nampula (no Norte do país, onde tinha residência antes de se fixar na Gorongosa) ou para a cidade da Beira.

Após o quer considera ter sido uma "vitória militar", o líder da Renamo prepara-se para iniciar a campanha eleitoral. "A Renamo vai limpar, já ganhámos", disse o líder da oposição, recusando cenários apontados por comentadores políticos e sondagens que colocam a sua candidatura presidencial e o seu partido atrás da Frelimo e do MDM (Movimento Democrático de Moçambique).

Em relação ao candidato presidencial da Frelimo, Filipe Nyusi, Dhlakama prevê que não atinja sequer 30% e, quanto ao MDM, que tem vindo a consolidar a sua força no voto urbano, disse que os dissidentes da Renamo que fundaram esta força em 2008 "estão a regressar todos os dias ao partido".

 

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