Combates prosseguem no Leste da Ucrânia nas vésperas de uma maratona diplomática

Batalhão de voluntários fiéis a Kiev com dificuldades para assumir o controlo de Ilovask, perto de Donetsk. Combates fizeram 34 mortos nas últimas horas.

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O Batalhão do Donbass, fiel a Kiev, está cercado em Ilovask Sergei Karpukhin/Reuters

O Exército ucraniano continua a lançar ataques contra as duas cidades ainda controladas pelos combatentes separatistas no Leste do país, enquanto os líderes políticos se preparam para iniciar uma semana de conversações que poderá ser decisiva para o futuro do conflito.

Uma das batalhas mais intensas está a ser travada na pequena cidade de Ilovask, na província de Donetsk, que está sob controlo dos separatistas desde o início dos confrontos, em Abril.

Os combates das últimas horas em Ilovask fizeram pelo menos nove mortos entre os soldados leais a Kiev, entre eles um cidadão norte-americano identificado como Franko – um nome que terá adoptado em homenagem ao escritor ucraniano Ivan Franko, segundo o jornal Kiev Post.

Que se saiba, Franko é o primeiro estrangeiro a morrer nas fileiras das tropas ucranianas no Leste da Ucrânia nos combates contra os separatistas, que contam com a ajuda de cidadãos russos.

Com cerca de 16.000 habitantes, o centro da cidade de Ilovask parece continuar nas mãos dos combatentes rebeldes, mas as tropas governamentais dizem ter conseguido assumir o controlo de outras áreas.

A violência dos combates pelo controlo desta cidade deixou as tropas do chamado Batalhão do Donbass (constituído por voluntários fiéis a Kiev) numa situação muito difícil, debaixo do fogo de artilharia dos combatentes separatistas.

"Eles não conseguem sair de Ilovask", escreveu o fotógrafo Marks Levin na sua página no Facebook, numa tradução feita pelo Kiev Post. Outros dois batalhões de voluntários – o Azov e o Dnipro – terão conseguido fugir da região de Ilovask.

O Governo de Kiev afirma que conseguiu assumir o controlo de Ilovask na noite de segunda-feira, e que já repeliu três tentativas de recuperação do poder por parte dos separatistas, mas a agência rebelde Novorossia avança que as tropas governamentais estão a ser mantidas à distância em Ilovask, mas também em Torez e Iasinuvata.

Nas zonas da província de Donetsk onde o Exército ucraniano tenta derrotar os combatentes separatistas morreram pelo menos 34 pessoas nas últimas 48 horas.

Em Lugansk, a outra província fustigada por violentos combates desde o início de Abril, a população continua sem acesso a água corrente, electricidade e telefone, de acordo com as autoridades locais, citadas pela BBC. A apenas duas horas de distância, os camiões enviados pela Rússia e que transportam o que o país descreve como "ajuda humanitária" continuam parados à espera de algum desenvolvimento nas negociações.

Enquanto as armas continuam a falar mais alto em Donetsk e Lugansk, os líderes políticos vão tentar chegar a um compromisso nos próximos dias. A maratona diplomática começa este fim-de-semana, com a chegada da chanceler alemã, Angela Merkel, a Kiev, e prolonga-se até à próxima terça-feira, com uma cimeira, na Bielorrússia, em que estarão presentes os presidentes da Ucrânia, Petro Poroshenko, e da Rússia, Vladimir Putin.

Fora das altas esferas da política internacional também há movimentações no sentido de se alcançar uma solução diplomática para o conflito, lideradas pelo milionário Richard Branson.

Num comunicado assinado por vários empresários russos e ucranianos, o fundador do grupo Virgin afirma que "ninguém quer voltar aos dias negros", numa referência ao período anterior à queda do Muro de Berlim.

"Como empresários da Rússia, da Ucrânia e do resto do mundo, apelamos aos nossos governos que trabalhem em conjunto para garantirem que não vamos regressar à miséria da Guerra Fria. Apelamos aos políticos que sejam audazes e corajosos, para que as nossas nações possam pôr fim ao sofrimento causado pela guerra e, uma vez mais, voltemos a colaborar para um bem maior", lê-se no texto.

Questionado pelo Kiev Post sobre se o seu apelo não soa a ingenuidade, Richard Branson admitiu que pode "parecer simplista", mas que não ficaria bem consigo próprio se ficasse calado. E revelou um pouco do que dirá a Vladimir Putin, se o Presidente russo o receber: "Presidente Putin, não ponha o relógio a andar para trás. Lembramo-nos da queda do Muro de Berlim e de como nos sentimos bem, os russos e o resto do mundo. Vamos resolver os nossos problemas diplomaticamente e não militarmente. Vamos fazer negócios em conjunto, vamos casar-nos entre nós, vamos passar férias juntos. Vamos trabalhar em conjunto para solucionar os conflitos no mundo."

De acordo com os números das Nações Unidas, o conflito no Leste da Ucrânia já matou 2119 pessoas e feriu 5043. Na região de Donetsk morreram 951 civis. Estes números são encarados como estimativas conservadoras, porque dizem respeito a vítimas registadas – muitos outros corpos podem ter sido enterrados sem procedimentos burocráticos, e os rebeldes acusam Kiev de não revelar o verdadeiro número de mortes entre os seus soldados.

Para além dos mortos e dos feridos, o conflito obrigou à deslocação de mais de 300.000 pessoas – 156.000 para várias regiões na Ucrânia e 188.000 para a Rússia.

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