"Debate" é a palavra-chave das esquerdas nos próximos meses

Partido Livre apela à "vocação governativa" das esquerdas. Com o "refrão" que seja mais forte aquilo que as une do que aquilo que as separa.

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Enric Vives-Rubio

Há uma palavra que une todas as divisões à esquerda a que se tem assistido na última semana. “Debate” podia ser o lema político do BE, Livre e Associação Manifesto nos próximos meses. Já na próxima semana, os dois partidos e o movimento político preparam o contra-ataque às polémicas internas e públicas com ciclos de debates. Disponibilidade para o diálogo, em suma. Haverá frutos? Ninguém arrisca responder.

Numa semana particularmente penosa para o BE, no rescaldo da demissão de Ana Drago, antecedida pela desvinculação da Manifesto, corrente fundadora do partido, a direcção resolveu iniciar um ciclo de mesas redondas “Diálogos à esquerda” com individualidades independentes capazes de reflectirem sobre a actualidade política portuguesa e europeia. 20 pessoas em cada reunião é o objectivo da direcção bloquista, que já dirigiu os convites e deu o primeiro passo esta semana, com a realização de um primeiro encontro num hotel em Lisboa, que durou cerca de cinco horas.

Estes encontros tentam consumar um contra-ataque, dando corpo àquilo que os líderes pediram esta semana: juntar forças à esquerda e não contribuir para a dispersão. Participaram Isabel do Carmo, Pezarat Correia, José Vítor Malheiros, Nunes da Silva, entre outros. A próxima reunião deverá ocorrer só em Setembro.

João Semedo, coordenador do Bloco, confirmou ao PÚBLICO que o guião passa por “responder à evolução das políticas de austeridade e anti-sociais, depois da troika e no quadro da aplicação do Tratado Orçamental, e perspectivar a construção de uma maioria social e política de ruptura e alternativa”.

Porém, no interior do próprio Bloco a agitação permanece. Ontem, quatro dezenas de militantes do BE subscreveram um documento no qual reconhecem que o partido atravessa um período difícil e pedem um debate aprofundado que permita corrigir erros.

O comunicado é subscrito por 40 militantes, entre eles Carlos Cabrita, Helena Figueiredo, João Madeira, Sara Goulart, José Manuel Boavida, Albérico Afonso, Margarida Santos. A maioria destes militantes apresentou na última convenção do partido, há dois anos, a moção B. Nessa altura, Daniel Oliveira integrou a moção e o resultado obtido foi de cerca de 20%, o melhor até então conseguido por uma lista não afecta à direcção.

Agora, avisam que não se deve subestimar a saída da Associação Fórum Manifesto e que um “um partido não se constrói depurando-se”. A conclusão que retiram é a de que a desvinculação da Manifesto coloca em risco o “contrato fundacional” do partido.

A Manifesto, que integra nomes como os dos ex-bloquistas Ana Drago e Daniel Oliveira, também não parece querer perder tempo e já depois da reunião de sábado passado, tem agora agendada para a próxima quarta-feira uma “sessão pública para uma governação decente”.

Com Drago e Oliveira estarão, nomeadamente, os economistas e académicos José Reis e Ricardo Paes Mamede, que participaram no Manifesto 3D, criado no ano passado com o objectivo de convergências à esquerda. “Um momento de urgência como o actual exige a construção de um programa que impeça o desmantelamento do Estado Social e de uma plataforma política disposta a participar na governação” - é este o desafio deixado aos participantes.

Face a todas estas movimentações, o Livre, cujo principal rosto é o do ex-eurodeputado Rui Tavares, vislumbra “sinais de recomposição da esquerda”. E faz o quê? Apela a que construam uma “vocação governativa”, "que se entendam e dêem finalmente prioridade ao que as une em vez de insistirem no que as separa".

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