EUA contra referendo sobre independência do Curdistão iraquiano

Parlamento iraquiano volta a reunir-se no dia 8 de Julho, mas a perspectiva de um acordo de união é longínqua.

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Massoud Barzani quer um Curdistão independente SAFIN HAMED/AFP

O anúncio de um referendo de independência feito pelo presidente do Curdistão iraquiano, Massoud Barzani, provocou fortes críticas dos Estados Unidos, que continuam a insistir na união dos dirigentes iraquianos para travar a ofensiva dos radicais sunitas do Exército Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS).

Barzani pediu aos deputados do parlamento autónomo para “prepararem a organização de um referendo sobre o direito à autodeterminação” daquela região do Norte do Iraque que já goza de uma ampla autonomia. Numa altura em que os apelos da comunidade internacional à unidade se multiplicam e na ausência de qualquer consenso para formar um governo de união, a iniciativa de Barzani foi mal acolhida em Washington.

“Continuamos a acreditar que o Iraque é mais forte, se estiver unido”, disse o porta-voz da Casa Branca Josh Earnest, pedindo a todas as partes que “trabalhem em conjunto”. O vice-presidente, Joe Biden, encontrou-se com o chefe de gabinete de Barzani, Fouad Hussein, para reforçar a “importância de formar um novo governo no Iraque que junte todas as comunidades [xiitas, sunitas e curdos]”.

O Parlamento iraquiano, que primeiro tem de escolher um líder para depois designar o Presidente da República, que por sua vez deverá nomear o primeiro-ministro, tem uma nova reunião marcada para 8 de Julho. A última sessão dos deputados, na passada terça-feira, acabou num caos e pautou-se por inúmeras trocas de insultos entre xiitas, vencedores das eleições de 30 de Abril, sunitas e curdos.

Faça à progressão no terreno das forças do ISIS, que tem a lutar a seu lado membros de tribos sunitas e antigos solados do Exército de Saddam Hussein, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas americanas, Martin Dempsey, sublinhou que será necessária uma “ajuda estrangeira” para que as forças de Bagdad reconquistem os territórios tomados pelos jihadistas, mas disse que essa ajuda não passa por um envolvimento de tropas norte-americanas no terreno.

A primeira etapa da reconquista seria política e passaria por “encontrar um parceiro iraquiano credível disposto a dotar o seu país de um projecto em que todos os iraquianos desejassem participar”, explicou Dempsey.

Uma perspectiva que as declarações de Barzani sobre o Curdistão tornam mais longínqua. Para além de pedir o referendo de autodeterminação, também disse que as forças curdas “não vão abandonar sob nenhum pretexto” a cidade disputada de Kirkurk, por elas controlada durante a ofensiva do ISIS, no mês passado.

O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, rejeita as pretensões de Barzani sobre esta cidade, que é um importante centro petrolífero, avisando que “ninguém tem o direito de aproveitar os acontecimentos para impor um facto consumado”.

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