O combatente e o exilado

Já em 2009 os dois candidatos tentaram chegar à presidência do Afeganistão

Abdullah Abdullah

Aos 53 anos, o antigo médico oftalmologista e resistente anti-taliban, Abdullah Abdullah, é o favorito à vitória nas eleições presidenciais do Afeganistão – uma conquista que lhe escapou há cinco anos, quando poucos dias antes da votação dissolveu a sua candidatura em protesto contra as alegadas fraudes eleitorais para a reeleição de Hamid Karzai.

No seu currículo político constam vários cargos relevantes, antes e depois da chegada dos militares da Nato ao Afeganistão: foi o braço direito do carismático comandante tajique  Ahmad Shah Massoud, que combateu a ocupação soviética da década de 80; entrou no Governo interino de Burhanuddin Rabbani durante a guerra civil de 1992-96; tornou-se o porta-voz da Frente Islâmica Unida, mais tarde Aliança do Norte, que se opôs ao regime taliban; e assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros em 2001, mantendo-se como ministro no primeiro Governo de Hamid Karzai, eleito em 2004. Dois anos mais tarde, os dois acabaram por se desentender.

Uma sucessão de cargos que, assinalam os analistas, encaixam como uma luva no seu perfil político de homem capaz de manobrar nos bastidores, formar alianças e construir consensos – e que já se revelou muito útil na negociação de apoios políticos para a segunda volta eleitoral, nomeadamente dos líderes tribais pashtun e dos senhores da guerra que dominam os estados do Sul do país.

Longe de ser um político laico, Abdullah Abdullah é um moderado, tanto do ponto de vista religioso como político. Defende a via ocidental, tendo forjado relações muito próximas com os Estados Unidos e as outras nações envolvidas na missão militar no Afeganistão. Em 2009, no rescaldo das eleições presidenciais, criou uma nova força política de oposição, a Coligação para a Mudança e Esperança, que no fim de 2011 foi alargada e rebaptizada Coligação Nacional do Afeganistão.

No passado dia 6 de Junho, Abdullah e a sua comitiva foram alvo de um atentado à bomba, atribuído pela imprensa aos taliban: o candidato escapou incólume mas três dos seus guarda-costas e quatro apoiantes que participavam numa acção de campanha morreram.

Ashraf Ghani Ahmadzai

O economista e académico Ashraf Ghani, de 65 anos, passou mais de duas décadas longe do Afeganistão, de onde emigrou em 1977 – antes da invasão soviética de 1979, da guerra civil e da redefinição do país como um emirado islâmico com a ascensão dos taliban ao poder. Não está, por isso, associado a nenhuma facção do combate (político e militar) do passado recente: para muitos analistas, esse é o seu principal trunfo eleitoral, ao qual se acrescenta ainda um reconhecido mérito profissional (o seu nome figura repetidamente nas listas dos pensadores mais influentes e originais) e uma personalidade enérgica.

A sua formação académica foi feita no Líbano e nos Estados Unidos, onde além de estudar, acabou também por leccionar nalgumas das universidades mais prestigiadas do país. Em 2001, depois de ter trabalhado na área do apoio ao desenvolvimento no Banco Mundial, decidiu regressar ao Afeganistão, que na altura se reconstruía depois da deposição do regime taliban. Ghani atendeu ao convite da Organização das Nações Unidas e mudou-se de Washington para Cabul para ser conselheiro especial: nesse papel, foi um dos responsáveis pela constituição de um Governo interino, tendo depois assumido a pasta das Finanças (foi ministro entre 2002 e 2004, trabalhando “pro bono”). Depois da eleição de 2004, deixou o executivo e tornou-se o presidente da Universidade de Cabul.

Durante o seu mandato ministerial, Ashraf Ghani teve por missão a criação de uma nova moeda e o estabelecimento de um novo sistema tributário. Foi também encarregado de negociar as contribuições financeiras dos países doadores, e tornou-se uma espécie de “embaixador económico” que encorajava a diáspora afegã a reinvestir no país. Um incansável activista da luta contra a corrupção, e membro de várias organizações de combate à pobreza, transpôs as suas causas para o programa político da sua candidatura presidencial.

Tal como o seu adversário Abdullah Babdullah, Ghani posicionou-se na corrida de 2009 contra Hamid Karzai. Na altura, a sua campanha foi auxiliada pelo famoso consultor político democrata norte-americano James Carville.

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