Manutenção da Paz da ONU: uma força para o futuro

Com uma história de 65 anos, as Forças de Manutenção da Paz da ONU continuam a realizar trabalhos complexos em locais difíceis.

Era uma noite escura de Fevereiro na província montanhosa de North Kivu no Leste do Congo. Às 02h45 um pequeno e silencioso Veículo Aéreo Não Tripulado, voou em círculos à volta de uma aldeia em território Masisi e enviou um vídeo em directo de um grupo de homens armados que recentemente tinham invadido um posto militar local.

Assim que o VANT cedeu imagens a uma sala de controlo, oficiais militares preparavam os seus soldados para serem mobilizados caso as populações civis na área fossem directamente ameaçadas. O ataque nunca se materializou, mas caso tivesse, o bando de saqueadores teria tido uma recepção bastante desagradável. Esta cena não é de um filme de Hollywood – está a acontecer neste momento com a Força de Manutenção da Paz da ONU na República Democrática do Congo.

Hoje 29 de Maio, celebramos o Dia Internacional das Forças de Manutenção da Paz da ONU e honramos os 106 soldados da paz que perderam as suas vidas em 2012. Durante o último ano, foi pedido às forças de Manutenção da Paz da ONU que se adaptassem a novas ameaças e desafios, ajudando mais pessoas do que nunca durante os conflitos mais destruidores do mundo.

Há cerca de dois meses, o Conselho de Segurança da ONU estabeleceu as mais recentes missões de paz na República Centro Africana, um país que continua a sofrer violência generalizada. Uma vez totalmente implementada, os 12 mil militares e polícias da nossa missão presentes protegerão a população, tanto Cristãos como Muçulmanos, e prestarão apoio às autoridades no restabelecimento das instituições estatais que garantem estabilidade a longo prazo. Noutros lugares, a nossa missão no Mali enfrenta a ameaça constante de ataques assimétricos e violência latente, ao mesmo tempo que promove um diálogo inclusivo e um acordo sustentável para o conflito. No Sudão do Sul, o país mais novo do mundo, a nossa missão está a trabalhar com uma crise política que matou milhares e provocou milhões de refugiados. Com o exército nacional a participar no conflito, a Missão de Paz da ONU no país tem de se adaptar constantemente para assumir um papel primário na protecção de cerca de 85 mil civis através da abertura das suas portas e deixando-os entrar.

Ao enfrentar novos desafios, é pedido às forças de Manutenção da Paz da ONU que não consigam alcançar apenas soluções mas que façam valer os custos do dinheiro. Com o crescimento das dificuldades financeiras a nível mundial estamos a procurar oportunidades para inovar e modernizar e dessa forma garantir que temos forças de manutenção de paz que estão à altura da sua missão e preparadas para o futuro.

No ano passado, de forma a ultrapassar os desafios de proteger os desafios na vasta República Democrática do Congo – onde apenas há um soldado da paz por 117 km quadrados – lançamos um programa VANT, um avanço tecnológico para a ONU, Também no leste do país, onde as comunidades estão sob ameaça de milícias armadas, enviamos uma “Brigada de Intervenção” especialmente equipada para apoiar o exército congolês.

Em Novembro, a Brigada apoiou com sucesso os militares a derrotarem o Mouvement du 23 Mars (M23), um grupo armado a operar na província de North Kivu, libertando áreas sob o seu controlo e removendo a ameaça à qual os civis estavam submetidos.

Sendo que a procura pela Manutenção da Paz da ONU cresce e espera-se que a Organização responda em cenários de rápida evolução, a ONU está a criar plataformas que ajudem a adaptar rapidamente e que consigam fazer mais com recursos limitados. Por exemplo, a Manutenção da Paz da ONU irá lançar um Painel Especialista de Inovações Tecnológicas que irá dar conselhos sobre as melhores formas de dispor de tecnologias novas e emergentes.

A ONU também estabeleceu um centro regional em Entebbe que permite que as nossas missões partilhem dos nossos recursos aéreos, fazendo a organização poupar 100 milhões de dólares entre 2011 e 2013. Os nossos Capacetes Azuis também estão a tomar medidas mais “verdes” através da utilização e administração responsável de recursos limitados, uma vez que pretendemos deixar as áreas das nossas Missões num estado melhor comparativamente ao que encontrámos quando chegamos. Estamos a usar dados de Sistemas de Informação Geográficos para nos auxiliarem a encontrar fontes de água para sustentar as nossas missões de forma a que não crie impactos negativos nos sistemas de abastecimento locais. Tratamento de águas desperdiçadas e projectos de reciclagem foram instalados em nove missões de paz, com o eventual objectivo de implementar esta ideia em todas as nossas operações.

Estados Membros e a ONU têm a responsabilidade fundamental de prevenir os conflitos armados e de proteger as pessoas de atrocidades e crimes hediondos. Hoje, a protecção está no centro das Forças de Manutenção da Paz modernas, com 10 operações de paz, contendo 95 por cento do pessoal enviado com o mandato de proteger civis.

Para que as Forças de Manutenção da Paz da ONU consigam responder rapidamente a uma crise, tal como no Sudão do Sul, ou lidar com a complexidade das ameaças contemporâneas como no Mali ou na República Centro Africana, também estamos a fortalecer as nossas parcerias com os Estados Membros e com organizações regionais ou sub-regionais, tal como ainda a fortalecer a cooperação entre missões. No Mali e na República Centro Africana, trabalhámos em conjunto com a União Africana e grupos sub-regionais

Com uma história de 65 anos, as Forças de Manutenção da Paz da ONU continuam a realizar trabalhos complexos em locais difíceis. As nossas operações de Manutenção da Paz comportam uma legitimidade única, universal que é inigualável por qualquer outro instrumento da paz e da segurança internacional. Juntamente com um orçamento anual que representa menos da metade de um por cento da despesa militar mundial total, as Forças de Manutenção da Paz da ONU não são apenas indispensáveis, são simplesmente, um bom valor.

Hoje, enquanto lembramos os nossos colegas caídos, dedicamo-nos, e os Capacetes Azuis, como uma força da paz, uma força para a mudança, uma força para o futuro.

Sub-Secretário-Geral para o Departamento das Nações Unidas de Operações de Manutenção da Paz;

Sub-Secretária-Geral para o Departamento de Apoio Logístico das Nações Unidas

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