PS entre a moção de censura e a "batata quente" na mão do Presidente

"Depois de domingo é o infinito, tudo pode acontecer", disse Francisco Assis. Os socialistas sonham alto sobre as consequências dos resultados das eleições, que contam ganhar.

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Seguro usou a palavra "censura" e a questão da moção levantou-se Fernando Veludo/NFactos

“Depois de domingo, é o infinito, tudo pode acontecer.” A frase saiu a Francisco Assis no Instituto Empresarial do Minho, poucas horas depois de António José Seguro ter discursado em Fafe usando a palavra tabu da política portuguesa. O secretário-geral falou de censura sem colocar à sua frente a palavra moção. Mas foi o suficiente para se instalar a dúvida em relação ao que o PS poderia fazer quando se visse perante uma vitória larga nas eleições europeias.

“É uma questão que neste momento não está, nem deve estar, na nossa agenda até ao próximo domingo”, insistiu Assis em Vila Verde, no distrito de Braga.

Horas antes, Seguro, ao relatar um encontro com um eleitor que defendia a necessidade de “correr” com o Governo, decidiu devolver a bola aos portugueses. Se pretendiam ver Passos Coelho a cair, tinham a oportunidade de o demonstrar a 25 de Maio.

“É agora, chegou o dia que tanto esperaram. É a hora de, com o voto de cada português, fazermos justiça, censuramos este Governo e votarmos na mudança para dar de novo esperança e confiança aos portugueses", disse.

Mas no seio socilalista há ainda outra alternativa. A de colocar a batata quente nas mãos do Presidente. “As consequências a retirar de uma vitória esmagadora é o Presidente que tem de pesar. O Governo pode ficar muito fragilizado”, explicava ao PÚBLICO o deputado e próximo de Seguro Fernando Jesus.

Para os socialistas, os números de um Governo frágil estavam contados: “Dez deputados para o PS e sete para a coligação. 38% dos votos para o PS e 30% para o PSD e CDS”, afirmara ao PÚBLICO há duas semanas o candidato Manuel dos Santos.

Manuel Alegre, o histórico socialista que ainda há dois dias, num comício em Coimbra, se mostrava esperançado numa “abada” nas eleições, destacava essa possibilidade ao PÚBLICO. “Uma derrota estrondosa” da direita mudava o jogo. E, nesse cenário, “dificilmente isto pode ficar na mesma”, analisava Alegre. Mas o problema para o ex-deputado era mesmo Belém. “Nessa situação, o Presidente deveria tirar ilações, mas não tenho grandes esperanças.”

Ainda assim, durante o dia, aquilo que Seguro ensaiara como um desafio directo aos descontentes acabou devolvido ao PS. O site Observador colocou em linha a possibilidade de uma moção durante a tarde. “No PS há conversas para tudo e há muita malta a defender essa tese”, admitia Ricardo Gonçalves. Um deputado socialista confirmou que ter ouvido esse “comentário de corredor”.

Sendo outro socialista próximo de Seguro, seu apoiante desde a primeira hora, Gonçalves garantiu que o debate não tinha ainda chegado ao topo. “Nunca ouvi Seguro dizer isso”, disse antes de acrescentar que o critério do secretário-geral para avançar com uma moção era outra: “Se achar que o Governo está a prejudicar o país”. Mas o socialista reconhecia outro cenário. “Pode surgir um movimento a nível nacional que o Partido Socialista considere que deve representar”, explica.  

Mas um argumento poderia complicar essa contabilidade. Uma abstenção “muito alta” retira-lhe força. Manuel Alegre já reconheceu também que esse factor tinha de ser tido em conta. O passo seguinte do PS em relação às legislativas estava assim suspenso do resultado das eleições europeias. Mas as expectativas estão em alta. Devido ao que ouviam na “rua”, garantiam.

E na quarta-feira nem foi preciso andar à chuva. No Centro Empresarial do Minho, Francisco Azevedo apareceu a Assis para lhe exibir o seu diploma dos 30 anos de militância no PSD. E anunciar o voto no PS. Por não querer “ver os filhos emigrar”.

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