João Ferreira apela ao voto útil na CDU e ataca Cavaco

Candidato da coligação de esquerda foi a Salvaterra de Magos encontrar jovens quase à beira de votar que não conhecem os partidos, e fez arruada na zona histórica de Santarém.

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João Ferreira numa animada arruada em Santarém Enric Vives-Rubio

O nervosismo da contagem decrescente já se começa a fazer sentir. João Ferreira, o cabeça de lista da coligação de esquerda (PCP, Verdes e ID) apelou ontem ao “voto útil contra as troikas corporizadas por PSD e CDS mas também – e sobretudo - pelo PS. Contras troikas estrangeira e “doméstica” como gosta de lhes chamar.

Procurando contrariar a tendência dos indecisos votarem nos socialistas para castigar o Governo, João Ferreira não se cansa de associar o PS, não só à devastação criada pelos três anos do programa da troika, mas também a políticas erradas que durante anos praticaram e que levaram ao pedido de ajuda e ainda ao facto de o PS ter ajudado a direita a “amarrar o país” ao Tratado Orçamental, que obriga à manutenção das políticas de austeridade depois do fim do resgate.

Durante uma arruada ao final da tarde desta segunda-feira em Santarém, João Ferreira fez questão de fazer uma declaração de apelo ao voto útil. “Há muitos portugueses descontentes que pensam encaminhar esse descontentamento para o rio inconsequente da abstenção; aquilo que estamos a dizer é que há uma utilidade a dar ao seu voto”, afirmou. “Se pretendem contrariar o caminho que o país seguiu nos últimos anos, não podem votar naqueles que nos trouxeram a esta situação”, acrescentou, quando questionado se a intenção é ir buscar votos ao PS.

João Ferreira contesta que tenha tido, na campanha, o PS como alvo preferencial. “Aquilo que temos feito é um ataque e uma condenação muito fortes à política que tem vigorado no país nos últimos anos, e essa política tem tido mais do que um protagonista”, disse o candidato entre a distribuição de panfletos pelas lojas e ruas quase vazias da zona histórica da cidade.

Não se fez rogado: entrou em retrosarias, cafés, lojas de ferramentas, de lingerie e de artesanato – uma lojista queixava-se por não entrarem para comprar, quando afinal a candidata dos Verdes, que ia na comitiva, Manuela Cunha, até era sua cliente. Tentou contrariar o comentário de um reformado que lhe disse “Ah, a CDU, a ideia que eu tenho desse partido é que são pessoas mais velhas; precisam é dos novos…” O candidato, que tem 35 anos, não se ficou. “Ainda queria mais jovem do que eu?!?”

Logo no início da passeata, na rotunda central junto ao W Shopping, ouviu as queixas de duas reformadas que vendiam rifas – "a um euro e sai sempre", diziam – para o Centro Interparoquial de Santarém. “Nós com 200 escudos eramos umas rainhas e hoje com um euro não somos nada”, lamentava-se Maria da Glória Patrício, com “saudades do escudo”. “Um euro não chega para o pão; é um horror, um disparate”, acentuava. “Ainda vou pensar se no domingo lá vou [votar]”, suspirava já depois do candidato se afastar.

Os sub-18 não sabem quem governa
O apelo da tarde viria na sequência do desinteresse que também pela manhã observou na Escola Profissional de Salvaterra de Magos. Numa sessão com cerca de uma centena de alunos, de pé, frente à plateia, de microfone na mão, João Ferreira perguntou quem tinha 18 ou mais anos, e apenas meia dúzia levantou o braço.

Poucos podem ainda votar no domingo, mas não foi por isso que o candidato da CDU deixou de, durante 20 minutos, explicar o que é a CDU, falar sobre as desigualdades da sociedade portuguesa e a situação do país, como se chegou aqui e os culpados, e sobre as consequências das políticas europeias na governação nacional.

“Quem sabe quem esteve no Governo nos últimos anos?” Uma aluna sentada quase à frente lá foi dizendo a medo, de semblante franzido, com ar de dúvida e a espaços “PS… PSD…”. “Falta outro que lá esteve de vez em quando e que até lá está agora a dar uma ajudinha”, diz João Ferreira e na sala ouve-se, timidamente, aqui e ali, “o CDS”.

Antes, na visita a um laboratório de electrónica, um aluno de 19 anos dizia que “não há assim muitas pessoas [da minha idade] interessadas no futuro e na política”. Já votou nas autárquicas do ano passado, mas admite sentir “algum desinteresse” pelo tema entre amigos e colegas de escola, que também não procuram informação. Com microfones e câmara de TV apontada, João Ferreira não hesita: “Se fazemos o que queremos com os LED também temos que o fazer com o país para darmos a volta a isto.” Sem perceber a indirecta, o aluno lá vai dizendo que “é preciso trabalhar”.

A crítica chegou pela vez de um professor mais velho. Emílio Coelho lembrou que pela escola já passou a caravana de outro partido – o BE. “Todos vêm dizer as mesmas coisas”, apontou, para explicar o desinteresse pela política de quem ainda é menor, acrescentando que não se conhecem as propostas – se é que as têm, fez questão de vincar.

João Ferreira pareceu não ter gostado da observação, porque pouco antes realçara que “os políticos não são todos iguais e as políticas não são todas iguais”. “Não sei quem veio, mas tenho muitas dúvidas de que tenham dito o mesmo que eu disse ou vou dizer”, avisou.

Na conversa de quase hora e meia com alunos e professores, João Ferreira adoptou um tom mais didáctico para falar sobre as mesmas ideias que todos os dias repete aos militantes, mais a Norte ou mais a Sul. Fez a defesa da aposta nos sectores produtivos como a agricultura, a pesca e a indústria – “a solução para dever menos é produzir mais” - e apontou o dedo a Cavaco Silva, recordando que o actual Presidente, quando foi primeiro-ministro, disse que “não faz mal deixar de produzir".

"Se a gente consegue comprar mais barato, então compra-se, para que havemos de estar a produzir?”, dizia, supostamente citando Cavaco. O problema é que os produtos podem ser baratos no início, mas depois, apontou João Ferreira, quando o tecido produtivo fica arrasado, o país “fica nas mãos” de outros países e tem que “pagar o que eles pedem, seja barato, seja caro”.
 

   

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