João Ferreira e os sub-18 que não sabem quem governa o país

Candidato da CDU foi à Escola Profissional de Salvaterra conhecer algumas “engenhocas” electrónicas e falar com os alunos.

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Joana Bougard

Será por falta de interesse e por falta de informação que boa parte dos cerca de cem alunos da Escola Profissional de Salvaterra de Magos que esta segunda-feira de manhã foram ao auditório ouvir o candidato da CDU às europeias, não sabem quais os partidos que têm governado Portugal nas últimas quatro décadas.

De pé, frente à plateia de alunos, de microfone na mão, João Ferreira explicou o que é a CDU, que partidos integra, falou sobre as desigualdades da sociedade portuguesa e quis apontar os responsáveis políticos.

“Quem sabe quem esteve no Governo nos últimos anos?” Uma aluna sentada quase à frente lá foi dizendo a medo, de semblante franzido, com ar de dúvida e a espaços “PS… PSD…”. “

Falta outro que lá esteve de vez em quando e que até lá está agora a dar uma ajudinha”, diz João Ferreira e na sala ouve-se, timidamente, aqui e ali, “o CDS”.

Pouco antes perguntara quais os alunos que tinham 18 ou mais anos, e apenas meia dúzia levantou o braço. Poucos podem ainda votar no domingo, portanto. Mas não foi por isso que o candidato da CDU deixou de, durante 20 minutos, falar sobre a situação do país, como se chegou aqui e os culpados, e sobre as consequências das políticas europeias na governação nacional.

A crítica chegou pela voz de um professor mais velho. Emílio Coelho lembrou que pela escola já passou a caravana de outro partido. “Todos vêm dizer as mesmas coisas”, apontou, para explicar o desinteresse pela política de quem ainda é menor, acrescentando que não se conhecem as propostas – se é que as têm, fez questão de vincar.

João Ferreira pareceu não ter gostado da observação, porque pouco antes realçara que “os políticos não são todos iguais e as políticas não são todas iguais”.

“Não sei quem veio, mas tenho muitas dúvidas de que tenham dito o mesmo que eu disse ou vou dizer”, avisou.

Ainda antes desta sessão, durante uma curta visita pela escola, Carlos Gonçalves, aluno do 12º ano que no laboratório de electrónica estava de volta de um cubo de leds, o seu projecto de grupo, dizia, questionado pelos jornalistas, que “não há assim muitas pessoas [da minha idade] interessadas no futuro e na política”. Com 19 anos, já votou nas autárquicas do ano passado, mas admite sentir “algum desinteresse” pelo tema entre amigos e colegas de escola, que também não procuram informação.

O cubo de LED que ocupa os três alunos pode ser usado como suporte publicitário ou simples iluminação, explica Carlos Gonçalves, enquanto as minúsculas luzes azuis vão piscando em sintonia, fazendo efeitos certinhos e geométricos.

Com microfones e câmara de TV apontada, João Ferreira não hesita: “Se fazemos o que queremos com os LED, também temos que o fazer com o país para darmos a volta a isto.” Sem perceber a indirecta, o aluno lá vai dizendo que “é preciso trabalhar”. Ao que o candidato replica que “alguns trabalharam, mas mais valia que estivessem quietos. Criaram 1,5 milhões de desempregados.”

O aluno do curso de automação não pensa emigrar, diz aos jornalistas. “Gostava que criassem vagas de emprego”, responde quando desafiado a fazer um pedido ao candidato, que é político.

Uma das palavras incentiva João Ferreira. “Há aí uma expressão tramada quando se diz ‘os políticos’. Tende a misturar-se coisas muito diferentes.”

Porque há políticas diferentes e políticos diferentes, haveria de vincar depois aos alunos; e até se “misturam os políticos responsáveis pela situação em que o país está e os que mais se têm batido por um caminho alternativo”.

O candidato defendeu depois a necessidade de apoiar empresas de base tecnológica como forma de pôr o país a criar emprego e riqueza. E Carlos Gonçalves ficou convencido? “Sim, acho que sim”, disse. Uma resposta melhor do que a dada por Mariana, uma aluna tímida de 18 anos de electrónica que ia juntando os circuitos numa caixa de correio que alerta o dono da casa por SMS e com um sinal luminoso assim que chega correspondência. Disse que não era a melhor pessoa para fazer perguntas ao candidato ou sequer dizer porque os jovens não se interessam pela política.

 

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