Regressar a níveis e crescimento sustentável é o desafio do novo Governo

Apenas 0,3% dos 1200 milhões de habitantes vivem em contexto urbano.

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Reuters

A maior democracia do mundo vai a votos. Mais de 800 milhões de pessoas serão chamadas a decidir quem vai tomar conta dos destinos da Índia. A magnitude da operação pode ser comparada aos desafios que o novo Governo terá de enfrentar, num país que vive, provavelmente, uma das suas mais graves encruzilhadas económicas e tem uma classe política acusada de cuidar mais do interesse próprio do que do bem geral.

A revista The Economist lembrava, esta semana, que os políticos indianos terão amealhado até 12 mil milhões de dólares em subornos durante a década de governação liderada pelo Partido do Congresso, enquanto a economia entrava em declínio, incapaz de gerar emprego para os milhões de jovens que todos os anos ingressam no mercado de trabalho, e problemas como a má nutrição, a deterioração das infra-estruturas e as dificuldades de fornecer energia eléctrica à população se acentuavam.

Não se pode dizer que estes sejam problemas novos no contexto económico da Índia. O que espanta é a dimensão e a incapacidade de lhes dar resposta. Desde o início da década que andamento do produto interno bruto (PIB) indiano tem sido uma decepção. Para este ano, as previsões apontam um crescimento de 4,6% do produto interno bruto, ou seja, menos de metade do que fora conseguido em 2010/2011 (ano fiscal terminado em Março).

São muitas as razões que explicam este desempenho, desde logo o arrefecimento dos parceiros asiáticos (China, por exemplo) e a crise na zona euro. Mas o facto é que, sem almofadas internas, a Índia viu a sua produção industrial cair de níveis de crescimento de 8%, em 2010, para uns marginais 1,1% que constituem a previsão para o ano em curso.

Com apenas 0,3% dos 1200 milhões de habitantes a viveram em contexto urbano, a Índia contínua dependente de uma agricultura muito pouco competitiva e incapaz de reduzir o défice alimentar, o que faz com que a inflação se mantenha em patamares elevados (na ordem dos 7%) e se agravem as desigualdades. Dados do Fundo Monetário Internacional mostram que 33% da população sobrevive com menos de 1,25 dólares por dia, enquanto a fatia de população mais rica (10% do total) tem sob controlo quase 30% da riqueza gerada no país que tem a bomba atómica (cerca de 1,85 biliões de dólares).

Num contexto económico interno adverso e com os grandes investidores estrangeiros a retirarem capital do país para regressarem às grandes praças ocidentais (agora mais estabilizadas), a Índia vê acrescidos os problemas financeiros e as consequências não deixam de se fazer sentir — menos investimento privado, que caiu para o nível mais baixo de uma década, e um défice público que se mantém elevado.

“Um progresso muito lento nas reformas estruturais exigidas, inflação elevada, falhas na correcção dos problemas infra-estruturais e na cadeia de abastecimento, bem como o regresso a uma política fiscal expansionista são riscos essenciais da conjuntura indiana”, defendia o FMI num relatório que produziu sobre o país e divulgou no passado mês de Fevereiro.

Aliam-se a este quadro as dificuldades de conseguir financiamento a taxas aceitáveis. Os investidores pedem, actualmente, juros de cerca de 8% para emprestar dinheiro ao Tesouro indiano, o que compara com os menos de 4% que se exigem a Portugal (país que ainda está sob resgate financeiro).

Recentemente, o governo avançou com um pacote de medidas que visa garantir a estabilidade da moeda, promover o investimento e estabilizar o sistema financeiro. É ainda um quadro tímido, que o próximo Governo terá que ampliar. É esse o grande desafio.

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