Sinal de identificação do avião desaparecido foi desligado poucos minutos depois de estar no ar

Buscas alargadas para o oceano Índico, quando se reforçam suspeitas de que poderá ter havido pirataria áerea.

Foto
Mudar as buscas para o oceano Índico vai ser como procurar uma agulha num palheiro Philippine Navy/Reuters

O radar secundário do avião que desapareceu no sábado em rota de Kuala Lumpur para Pequim terá sido desligado poucos minutos depois de o avião estar no ar, o que sugere fortemente que o voo MH370 terá sido desviado por alguém com experiência de pilotagem.

A hipótese de por trás do desaparecimento do avião com 239 pessoas a bordo estar um acto de pirataria aérea está a ganhar força nos Estados Unidos, avança a Associated Press, que falou com técnicos ligados à investigação e apurou que o transmissor que emite a identidade do avião e a sua localização, para que os controladores de tráfego aéreo não vejam apenas um ponto no radar e saibam precisamente que avião é aquele, terá sido desligado após 12 minutos de voo.

O jornal Los Angeles Times, que falou com Mikael Robertssohn, co-fundador do site FlightRadar24, que segue diariamente 120 mil voos, revelou que após rever os dados daquele dia Robertssohn concluiu que este transmissor MH370 tinha sido desligado após 40 minutos no ar. “Alguém fez alguma coisa deliberadamente”, afirmou Robertsson.

O Wall Street Journal diz que entre as muitas hipóteses em cima da mesa em que trabalham os responsáveis americanos de contraterrorismo está a de que o avião possa ter sido desviado para outro local e que a ideia fosse usá-lo mais tarde. No entanto, responsáveis continuam a dizer que não há qualquer informação concreta a indicar que se possa ter tratado de um acto ligado a terrorismo.

“Se me tivesse perguntado há seis dias o que é que eu achava que tinha acontecido, diria que o avião se tinha partido. Mas agora, com 100 navios e aviões à procura e sem encontrarem nada, acho mais provável a teoria de que alguém pilotou o avião noutra direcção”, disse Robertssohn ao jornal de Los Angeles.

Essa outra possibilidade que está cada vez mais a ser considerada, e uma vez que há indícios de que os motores do avião se mantiveram a funcionar durante mais quatro a cinco horas depois de se ter perdido contacto com ele, é o oceano Índico, onde as águas são muito mais profundas do que em torno da Malásia - em cercas zonas, chegam a 7000 metros de profundidade.

A agência Reuters diz que os radares militares apontam para uma rota de um avião não identificado que poderia ser o voo MH370 – fontes ligadas à investigação disseram, sob anonimato, que o avião parece ter seguido pontos que marcam corredores aéreos –, sugerindo que a aeronave era pilotada por alguém com experiência. Com base nos dados dos radares, dizem as três fontes ouvidas pela agência noticiosa britânica, o avião parece ter seguido em direcção ao mar de Andamão e à baía de Bengala, já no oceano Índico.

Pela primeira vez, a Malásia não negou toda a informação avançada pelos media. O ministro da Defesa, Hishammuddin Hussein, confirmou que as buscas estão a focar-se também no Índico. Disse ainda que os investigadores estão a analisar “quatro ou cinco” possibilidades de o avião ter seguido uma rota alternativa. "Pode ter sido feito intencionalmente, pode ter sido sob coacção, pode ter sido por causa de uma explosão”, exemplificou. “Não quero entrar em especulação. Estamos a analisar todas as hipóteses.”

O ministro adiantou que as autoridades malaias ainda estavam a tentar assegurar-se de que os registos de radares militares que mostravam um pontinho a mover-se para ocidente, cruzando a península da Malásia, em direcção ao estreito de Malaca, era o voo MH370. “Serei a pessoa mais feliz do mundo se conseguirmos confirmar que é o MH370 e então poderemos passar todos os meios de busca do mar do Sul da China para o estreito de Malaca”, disse Hishammuddin Hussein.

A Índia, entretanto, começou a mobilizar-se em força para as buscas nas suas águas, e numa área que agora aumentou enormemente. O novo ponto de interesse fica a cerca de 1600 quilómetros do local inicial das buscas, realça a Associated Press. A Marinha indiana está também a organizar buscas em terra para norte, leste e sul das ilhas Andamão e Nicobar, arquipélagos que pertencem à Índia, mas ficam a centenas de quilómetros do subcontinente indiano, e a sul da Birmânia. Estas ilhas têm também densas florestas, com populações aborígeres, onde serão feitas buscas.

Três aviões indianos estão a percorrer a linha formada por estas ilhas, que se estende ao longo de 720 quilómetros e por uma extensão de 53 quilómetros, adianta a Reuters.

É pouco provável que haja informação a obter sobre o voo dos radares estacionados em Nicobar ou Andamão, disse ao Washington Post o almirante Arun Prakash (na reforma). Há apenas dois radares nestas cadeia de 576 ilhas que poderiam fornecer dados e estão focados no espaço aéreo indiano, não no que se passa no estreito de Malaca. “E estamos a assumir que estariam ligados 24 horas por dia. Mas estas coisas custam caro. São máquinas. Passam o dia a girar. Isto foi durante a noite. Se tivéssemos sido informados antes, talvez. Mas é pouco provável que estivessem ligados durante 24 horas”, disse ao jornal norte-americano.

Mudar as buscas para o oceano Índico vai ser como procurar uma agulha num palheiro. “É uma situação completamente diferente", comentou à CNN William Marks, comandante da sétima frota naval dos EUA, que está a colaborar na operação. "Passámos de um tabuleiro de xadrez para um campo de futebol."

Paralelamente, as autoridades malaias estão também a investigar a vida dos dois pilotos do avião e a fazer o seu perfil psicológico – a hipótese de um suicídio, como aconteceu o voo Egypt Air 990, em 1999, não pode ser descartada.

O capitão do MH370 era um aficionado da aviação de 53 anos, que tinha construído um simulador de voo em sua própria casa, diz a Associated Press. O outro piloto era um jovem de 27 anos que estava a pensar casar-se e tinha há pouco tempo obtido a formação necessária para poder estar ao comando de um Boeing 777. 

Sugerir correcção
Comentar