“Outro que vier é igual…a gente é que se ilude”

Passos Coelho visitou feira de empresários portugueses virados para a exportação, o SISAB, em Lisboa.

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Assim que Passos Coelho dobra a esquina, depois de cumprimentar dois empresários ligados ao vinho, um deles sorri e desabafa para a sua colega do lado como se estivesse a justificar o aperto de mão: “Outro que vier é igual…a gente é que se ilude. Ele é só a face disto”. A mulher solta uma gargalhada e exclama: “Pois esse é que é o problema!”.

O primeiro-ministro dava os primeiros passos num labirinto de stands, montados no Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas (SISAB), um palco para empresas exportadoras que abriu esta segunda-feira, em Lisboa. Tirou fotografias com empresárias chinesas, cumprimentou polacas, cheirou vinho, quis saber a confecção de pastéis de bacalhau, deu as boas vindas a homens de negócios, tentou ajudar um empresário português com dificuldades em exportar peles de bacalhau. Passos Coelho foi um verdadeiro anfitrião da feira ao longo de duas horas e meia de visita.  

De telemóvel em punho, duas chinesas percorreram vários metros numa perseguição fotográfica ao primeiro-ministro. Até que o encontro se acabou por dar. “Não conheço a China, espero ir lá para o ano”, confessou Passos, em inglês, às jovens empresárias ligadas ao vinho.

Uns metros mais à frente, foi a sardinha de Peniche, ultra-congelada, que o chamou a atenção. “Suponha que eu comprava esta sardinha com o objectivo de a assar, como é que se descongela?”, perguntou às gestoras. “É deixar descongelar quatro ou cinco horas antes e salpicar de sal”, respondeu uma delas. “Ah, ao natural…”, retorquiu o primeiro-ministro, parecendo desapontado por não poder “acelerar” o processo. Não levou as sardinhas, mas noutro stand provou um pastel de bacalhau pré-feito e interessou-se pela confecção: “O que é que faz à cebola? Pica-a?”.

A curiosidade ficou ainda mais aguçada quando se deparou com um engraxador. Passos Coelho queria saber onde se podia comprar um creme para os sapatos como havia “antigamente”. “Ah, no armazém. No supermercado eu bem procuro, mas não encontro”, retorquiu o primeiro-ministro, quando lhe foi indicado uma loja na Praça da Figueira.

Sempre que possível, Passos Coelho cumprimentava potenciais clientes. Uma delas, que provava vinho, era polaca. “Conheço o vosso primeiro-ministro, Donald [fez uma pausa] Tusk. Conhece-o?”, interrogou. “Conheço, mas não pessoalmente”, respondeu a empresária, sorrindo. “Volte de novo”, rematou Passos Coelho, em inglês, depois de também ter levado o copo ao nariz. 

Se alguns empresários portugueses se mostraram pouco interessados na passagem do primeiro-ministro pela sua “loja”, outros vieram à sua procura para lhe dar boas notícias. “Em 2013 triplicámos as exportações”, disse-lhe um empresário português ligado aos cereais. Podia ser um mote para o primeiro-ministro insistir nos indicadores positivos da economia, mas Passos Coelho limitou-se a expressar satisfação.

Foi já num reencontro com um antigo membro do Governo, o ex-secretário de Estado da Administração Local, Paulo Júlio, que Passos Coelho optou por deixar uma mensagem política. “Espero que também tenhamos uma revisão em alta das perspectivas da economia”, disse ao antigo secretário de Estado de Miguel Relvas, despedindo-se em seguida: “Paulo, um abraço grande!”.

Ainda longe do fim da visita, Passos Coelho pareceu ter perdido a noção do tempo. “Estou sem relógio. Estou aqui há uma hora?”, perguntou. Carlos Morais, director do SISAB, que esteve sempre ao seu lado, corrigiu: “Há uma hora e meia, senhor primeiro-ministro”. E ficou mais uma hora, entre cumprimentos e felicitações. 

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