Teatro São Carlos vai estrear em Portugal ópera “perdida” de Rossini

Il Viaggio a Reims vai ter quatro récitas entre 5 e 11 de Fevereiro. Resto da temporada ainda por anunciar.

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Esta produção do Teatro Real de Madrid, em colaboração com o Festival de Ópera Rossini, em Pesaro, Itália (onde Claudio Abbado a re-apresentou), terá encenação e cenografia do espanhol Emilio Sagi, direcção musical do chinês Ye-Chen Lin e será acompanhada pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigida por Joana Carneiro.

Il Viaggio a Reims, cuja apresentação em Lisboa será já resultante da direcção conjunta da maestrina portuguesa e do programador italiano Paolo Pinamonti, subirá ao palco do São Carlos nos dias 5, 7 e 11 de Fevereiro, às 20h, e no dia 9, às 16h.

O anúncio da estreia portuguesa desta preciosidade de Rossini foi feito esta semana pelo TNSC através de um comunicado, depois de ter sido adiada uma conferência de imprensa de apresentação da programação para 2014 - que tinha sido agendada para o passado dia 20 -, “devido a problemas de agenda da maestrina Joana Carneiro e do maestro Paolo Pinamonti”, segundo a justificação do gabinete de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura (SEC).

A administração do TNSC, pela voz de João Villa-Lobos, remeteu para a SEC os esclarecimentos sobre a programação, que a secretaria de Estado disse dever ser comunicada “em data oportuna”.

Recorde-se que Joana Carneiro e Paolo Pinamonti foram anunciados, em Setembro do ano passado, como novos responsáveis pela programação do TNSC, a primeira como titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa (onde se estreou com um concerto coral-sinfónico no passado domingo, dia 17), o italiano como consultor para a programação. No caso de Pinamonti, trata-se de um regresso, após os sete anos de trabalho que desenvolveu no São Carlos, e de onde saiu em 2007 em ruptura com o então secretário de Estado da Cultura (do governo PS), Mário Vieira de Carvalho. Mas Pinamonti vai agora conciliar o seu trabalho em Lisboa com a direcção do Teatro de la Zarzuela, em Madrid.

Il Viaggio a Reims – L’albergo del giglio d’oro é a primeira ópera que Rossini (1792-1868) compôs em Paris, quando aí se radicou a convite do rei Carlos X e ficou à frente da direcção do Teatro Italiano. Este “dramma giocoso” em um acto, com libreto de Luigi Balocchi, foi estreado na capital francesa em Junho de 1825, num espectáculo integrado nos festejos da coroação de Carlos X em Reims, e do qual só foram apresentadas quatro récitas.

Trata-se, de acordo com a nota de imprensa do TNSC, de “uma obra de enredo simples, feita para corresponder aos desejos dos amantes do bel canto e pejada de árias para todos os registos – quase sempre seguidas por cabaletas –, duetos e conjuntos, separados por recitativos”.

A ópera foi bem recebida aquando da estreia, e vista pelos críticos da época como “um verdadeiro tour de force”, por se tratar, na verdade, de “uma peça para 14 vozes a solo”. Mas Rossini considerou-a uma criação datada, cuja validade estaria circunscrita aos fins da encomenda. Por essa razão, reutilizou parte do material numa ópera posterior, Le Comte Ory (1828).

Após a morte de Rossini, a partitura de Il Viaggio a Reims ficou nas mãos da sua segunda mulher, Olympe Pelissier, que a ofereceu ao médico do compositor. Acabou por desaparecer, até que, em 1984, Claudio Abbado e Luca Ronconi a fazem regressar à cena, na versão compilada pela musicóloga Janet Johnson a partir dos fragmentos que entretanto foram sendo encontrados ao longo do século XX.

A sua apresentação no festival de Pesaro foi então vista como uma espécie de “renascimento de Rossini”. Mas, após o relançamento de 1984, foi ainda descoberto um coro da partitura original de Il Viaggio a Reims, que foi incorporado pela primeira vez numa nova encenação estreada no Covent Gardem, em Londres, em 1992.

A nota do TNSC diz não haver registo de que a ópera alguma vez tenha sido levada à cena em Portugal.



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