Pessimismo de israelitas e palestinianos não detém John Kerry

À décima viagem, o secretário de Estado de Obama vai pedir às duas partes decisões muito difíceis.

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John Kerry quer convencer israelitas e palestinianos a fazerem compromissos Brendan Smialowski/AFP

O ano começa assim que é Janeiro e é por isso que John Kerry já aterrou em Israel. Em onze meses como secretário de Estado da Administração de Barack Obama, esta é já a décima viagem de Kerry à região. Objectivo: conseguir um acordo de paz entre israelitas e palestinianos enquanto Obama estiver na Casa Branca, uma assinatura histórica como a que Bill Clinton acolheu em 1993, seguraram então na caneta Yasser Arafat e Yitzhak Rabin.

Kerry não tem tempo a perder nem tem muito a seu favor. “Há dúvidas crescentes em Israel de que os palestinianos estejam comprometidos com a paz”, disse o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ao lado de Kerry. O diplomata norte-americano encontrou-se primeiro com o líder israelita, esta quinta-feira, em Jerusalém; na sexta-feira tem encontro marcado com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, na Cisjordânia.

Netanyahu apontou o dedo a Abbas pela recepção que deu ao último grupo de prisioneiros palestinianos libertados das prisões israelitas, na noite do último dia de 2013. “A glorificação de assassinos de mulheres e de crianças é um ultraje”, disse. As libertações sucessivas – terminarão em Abril, com um total de 104 presos – foram negociadas pelos Estados Unidos como parte do pacote para reiniciar o processo de paz.

Como habitualmente, as acusações chovem dos dois lados. Antes de Kerry partir com destino a Jerusalém já os palestinianos tinham acusado o Governo israelita de estar atentar sabotar as negociações.

Na terça-feira, Abbas voltou a pedir a retirada de colonos e soldados israelitas dos territórios capturados em 1967. “O Vale do Jordão deve ficar para sempre sob soberania israelita”, disse esta quinta-feira o ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros de Israel, Zeev Elkin, rejeitando assim a criação de um Estado palestiniano baseado nas fronteiras pré-guerra dos Seis Dias – quando Israel conquistou e ocupou Gaza, Jerusalém Oriental e a Cisjordânia. “As fronteiras de 1967 são fronteiras de Auschwitz”, afirmou ainda, citado pelo diário israelita Ha’aretz.

Washington queria que um acordo de paz fosse alcançado em Abril. O mês passado, o chefe dos negociadores palestinianos, Saeb Erekat, explicou que se um esboço de um acordo for alcançado nos próximos meses isso significa que as conversações deverão continuar por mais um ano. O mesmo Erekat disse no início desta semana que as negociações estão a “falhar”, ameaçando levar Israel ao Tribunal Penal Internacional.

Nesta fase, Kerry vai pedir às duas partes decisões muito difíceis. Terá de convencer os israelitas a aceitarem precisamente as fronteiras de 1967 e dizer a Abbas para abdicar do direito de regresso das centenas de milhares de palestinianos que foram expulsos e fugiram na guerra da criação de Israel, em 1967. Abbas teme ter de reconhecer Israel como Estado do povo judaico. Entretanto, o Governo de Netanyahu adiou por uns dias a abertura de um concurso público para novas construções em colonatos – povoações erguidas na Palestina ocupada e ilegais segundo a lei internacional. Falta ainda o estatuto de Jerusalém

Os negociadores já estiveram juntos 20 vezes desde o Verão. E já só faltam quatro meses para Abril, a data marcada por Washington. Segundo Kerry, apesar do pessimismo manifestado pelos líderes das duas partes, uns e outros estão pelo menos a aproximar-se do ponto das decisões difíceis. Agora, diz o secretário de Estado, é preciso que ambos trabalhem com mais intensidade para esbater as diferenças e chegar às linhas gerais de um acordo.

“Isso criaria parâmetros fixos e definidos para que os dois lados saibam para onde caminham e quais é que podem ser os resultados”, disse Kerry em Jerusalém. “Isto vai levar tempo e exigir compromisso das duas partes, mas um esboço de um acordo seria uma vitória significativa.”

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