Milhares despedem-se de Mandela em Pretória

Depois do adeus dos líderes mundiais, até sexta-feira os sul-africanos podem despedir-se do seu herói.

Sul-africanos à espera do cortejo nas ruas de Pretória
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Sul-africanos à espera do cortejo nas ruas de Pretória Odd Andersen/AFP
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Cortejo militar nas ruas de Pretoria AFP
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Milhares de pessoas estão nas ruas para homenagear Mandela AFP
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Graça Machel, a viúva do ex-presidente sul-africano, à chegada ao Parlamento Reuters
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O neto mais velho de Mandela recebe o corpo no Parlamento Reuters
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Nas ruas, os sul-africanos celebram, à passagem do carro funerário AFP
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O Governo encorajou os cidadãos a formarem uma guarda de honra AFP

As ruas de Pretória encheram-se para seguir o cortejo fúnebre do antigo Presidente Nelson Mandela, e milhares de pessoas esperaram durante horas pela oportunidade de entrar na sede do Governo e prestar homenagem ao herói da luta anti-apartheid e símbolo da reconciliação nacional, que morreu na passada quinta-feira com 95 anos.

O velório de Mandela foi aberto ao público ao meio-dia, depois de dezenas de dignitários internacionais – que viajaram para Joanesburgo para participar numa cerimónia nacional em memória do primeiro Presidente negro do país, no estádio Soccer City – terem prestado homenagem ao líder sul-africano em privado, ao lado da sua família.

Nas filas para a entrada no complexo governamental de Pretória, a música, alegria e entusiasmo que marcaram as celebrações da vida de Nelson Mandela na rua – e que se repetiram à passagem do caro fúnebre onde o caixão do antigo Presidente seguiu coberto pela bandeira nacional – deram lugar ao silêncio e recolhimento.

Um apertado esquema de segurança foi montado em torno da sede da presidência: os visitantes fizeram fila à entrada, onde tiveram de passar por detectores de metal e depositar os telefones e máquinas fotográficas, para depois serem transportados em autocarro até ao local onde está depositado o corpo de Mandela.

Apesar de terem esperado durante horas, milhares de pessoas não conseguiram entrar, mas prometeram voltar no dia seguinte. Uma das mulheres que se perfilava entre a multidão, Grace, disse à BBC que assistir à passagem do cortejo fúnebre tinha sido “um dos momentos mais impressionantes” da sua vida. “Só queria poder despedir-me pela última vez”, contou.

Também na fila para entrar, Nezi Maqungu dizia ao repórter do The Guardian que a multidão à espera lhe recordava a jornada eleitoral de 1994, quando milhões de sul-africanos foram às urnas para eleger Mandela para a presidência. “Esse foi um dia de enorme alegria e este é de grande tristeza. Nunca mais haverá outro como ele”, lamentou.

O percurso entre o hospital militar de Pretória e o complexo governamental conhecido como Union Buildings vai ser repetido esta quinta e sexta-feira. No dia seguinte, o corpo de Nelson Mandela vai ser transportado para a sua província natal, e levado em procissão até à sua aldeia de Qunu, para o cumprimento dos ritos tradicionais Thembu. O funeral realiza-se no domingo.

A câmara de Cap organizou a sua própria homenagem, com concertos de Johnny Clegg, dos Ladysmith Black Mambazo e intervenções do antigo capitão da equipa sul-africana de rugby Francois Pienaar (que venceu o Mundial de 1995 com o apoio de Mandela) e da líder da oposição sul-africana, Helen Zille.

Terça-feira, iniciaram-se as celebrações com a homenagem no estádio do Soweto, em Joanesburgo, que juntou activistas e líderes mundiais e ficou marcado pela chuva e pelas vaias ouvidas pelo Presidente, Jacob Zuma, alvo do descontentamento com a corrupção e as dificuldades que tantos sul-africanos enfrentam.

Barack Obama roubou o palco, denunciando alguma hipocrisia nos elogios que se ouvem a Mandela desde a sua morte, na quinta-feira da semana passada. “Há muitos dirigentes que se dizem solidários com o combate de Mandela pela liberdade mas não toleram a oposição do seu próprio povo”, disse, aclamado pela multidão que enchia o Soccer City.

“Humilhação” é a palavra escolhida por parte da imprensa sul-africana para falar das vaias a Zuma. Já o diário The Soweto Sowetan escreve que “Vaiar um Presidente em exercício, anfitrião de vários chefes de Estado numa ocasião destas foi um insulto a Mandela”.

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