Irão propõe acordo sobre programa nuclear no prazo de um ano

Pela primeira vez desde 1979, os chefes da diplomacia de Washington e Teerão encontraram-se a sós.

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Kerry e Zarif trocaram um aperto de mão e conversaram animadamente durante a reunião em Nova Iorque Brendan McDermid/Reuters

Um acordo, negociado e posto em prática, no prazo de um ano. Foi esse o calendário proposto pelo Irão na reunião que quinta-feira juntou em Nova Iorque os chefes da diplomacia de Teerão e das seis potências que desde 2006 tentam resolver o diferendo provocado pelas ambições nucleares da República Islâmica. No final, Mohammad Javad Zarif e John Kerry conversaram durante meia hora a sós, num encontro sem precedentes em mais de 30 anos.

Segundo a descrição feita por um responsável norte-americano à agência Reuters, o secretário de Estado aproveitou o final da reunião nas Nações Unidas para se virar para o seu homólogo iraniano, sentado ao seu lado, e perguntar-lhe: “Falamos por uns minutos?” Os dois levantaram-se e foram para uma sala contígua onde falaram, sem a presença de qualquer assessor, durante cerca de 30 minutos.

Mesmo informal e sem qualquer testemunha, o encontro é histórico – desde a Revolução Islâmica de 1979 e o sequestro de americanos na embaixada em Teerão que os dois países, sem relações diplomáticas, não se reuniam a tão alto nível. “Informalmente já se falava que poderia acontecer”, admitiu o responsável, recordando que na segunda-feira a delegação americana chegou a propor um encontro informal entre o Presidente Barack Obama e Hassan Rohani, que os assessores do Presidente iraniano recusaram alegando não terem tido tempo para o preparar.

Mesmo antes do tête-à-tête, havia já sinais que confirmavam o novo momento no diálogo entre Washington e Teerão. Kerry e Zarif trocaram um aperto de mão no início da reunião e deixaram-se fotografar a conversar de forma animada.

No final da reunião, tanto norte-americanos como europeus elogiaram a “mudança significativa” da atitude iraniana desde a última cimeira do Grupo 5+1 (os membros permanentes do Conselho de Segurança mais a Alemanha) com Teerão. Foi em Abril, dois meses antes da eleição de Rohani, um moderado que fez campanha com a promessa de quebrar o isolamento a que as sanções internacionais votaram o Irão, ainda que sem pôr em causa os direitos do país, incluindo à produção de energia nuclear.

“Foi uma reunião densa, com uma atmosfera boa e enérgica, em que discutimos formas de avançar”, disse Catherine Ashton, a chefe da diplomacia europeia que tem sido a principal interlocutora de Teerão nas negociações sobre o programa nuclear. A responsável confirmou que as negociações propriamente ditas vão recomeçar a 15 de Outubro, em Genebra, e existe um consenso para trabalhar com base num “calendário ambicioso”.

Sorridente, Zarif explicou aos jornalistas que o Irão “espera finalizar as negociações no prazo de um ano”. Para que o ambiente “construtivo” de Nova Iorque dê frutos, o ministro dos Negócios Estrangeiros espera que seja dado “um primeiro passo que responda às preocupações imediatas das duas partes”. Teerão está interessado no alívio das sanções – quer as sucessivas rondas aprovadas pela ONU, quer as medidas unilaterais aprovadas desde 2011 pelos EUA e a União Europeia –, mas não é ainda claro que garantias está disposto a dar para responder às suspeitas de que estará a usar o seu programa nuclear para desenvolver bombas atómicas.

“Uma reunião e uma mudança de tom, apesar de bem-vindos, não respondem a todas as questões”, recordou Kerry no final da reunião.
 
 

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