Nuno Amado: “Chipre e Portugal têm situações claramente diferentes”

Presidente do BCP insiste que a primeira decisão sobre os depósitos nos bancos cipriotas agravou “o nível de insegurança das pessoas”.

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Os bancos portugueses estão hoje mais capitalizados, diz Amado PEDRO CUNHA/Arquivo

O presidente do BCP, Nuno Amado, afirmou nesta segunda-feira que a realidade portuguesa é “claramente diferente” da que se vive em Chipre, acentuando que a situação da banca em Portugal é actualmente “mais sólida” do que há seis meses.

“Chipre e Portugal têm situações completamente diferentes, são conhecidas e são claras. O sector financeiro em Chipre tinha uma dimensão absolutamente extraordinária, grande parte dos depósitos eram de não residentes, não tem nada a ver com Portugal”, disse Nuno Amado aos jornalistas no final da Assembleia-geral do banco.

As declarações do presidente da comissão executiva do Millenium BCP surgem, a título de “esclarecimento”, um dia depois da publicação de um artigo publicado na edição online do jornal britânico Finacial Times, com o título “Bancos portugueses temem ‘vírus de Chipre’”.

De acordo com o jornal, o presidente da comissão executiva do Millennium BCP, Nuno Amado, afirma no referido artigo que, “se alguém tivesse desenhado um plano para danificar o mercado europeu, teria sido difícil pensar em algo melhor” do que a solução aplicada em Chipre.

Nuno Amado esclareceu entretanto que “essas afirmações foram ditas numa conversa no dia 2 de Maio, há três semanas, tinham que ver muito com a decisão inicial de Chipre, uma situação muito má e que colocou um conjunto de questões adicionais sobre a própria forma de actuar das autoridades.

“A decisão era tão boa ou tão má que foi completamente alterada”, disse o banqueiro.

O plano de resgate no valor de 10 mil milhões de euros, aplicado pela troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional), em Chipre, previu um corte nos depósitos acima de 100 mil euros, que inicialmente chegou mesmo a abranger também quantias até esse montante.

Afastando a possibilidade de tal medida poder ser aplicada em Portugal, Nuno Amado acentuou que “os depositantes têm hoje, no caso do Millenium e outros, bancos com mais capital e com uma melhor posição de liquidez. Inquestionavelmente, estão hoje mais seguros do que estavam há seis meses atrás, há um ano e há dois anos”.

Destacou, a propósito, que há dois aspectos a considerar: a melhor capacidade dos bancos em termos de capital e em termos de liquidez e o facto de existir um fundo de garantia que cobre os depósitos até 100 mil euros.

“Os aspectos sistémicos não posso gerir e comentar, o que digo é que o fundo de garantia de depósitos não era de 100 mil euros, mas de um montante inferior, já foi aumentado para 100 mil euros e este fundo de garantia (de depósitos) português é dos que está melhor capitalizado na Europa”, declarou Nuno Amado.

Referiu ainda que o Millenium tem hoje um rácio de capital de 11%, face aos 6% a 8% que tinha há dois anos. Tem igualmente 22 mil milhões de euros de activos que pode ir descontar ao Banco Central Europeu (BCE) e só tem descontado 11 mil milhões de euros, ou seja, metade.

“Os bancos estão mais capitalizados e com mais liquidez, logo, temos de ter confiança. O que não pode acontecer são decisões que aumentem o nível de insegurança das pessoas de uma forma que não seja adequada, como aconteceu na primeira decisão do Chipre”, reiterou. E concluiu: “A situação está bastante mais sólida do que há dois, três, quatro anos. Estou confiante, seguro, que a situação se normalizará”.
 

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