Ronaldo: O mais rápido de sempre, dos zero aos 100 em apenas nove anos

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Ronaldo contra o Brasil, na primeira vez como capitão Foto: Eddie Keogh/Reuters

Com 18 anos, Cristiano Ronaldo era um miúdo tímido, quando se apresentou para o seu primeiro estágio na selecção, em Agosto de 2003. O então avançado do Manchester United integrava um grupo com estrelas como Figo, Pauleta, Deco, Couto ou Rui Costa, este último seria quem lhe cederia o lugar no primeiro jogo, contra o Cazaquistão, aos 46 minutos. Passaram nove anos desse particular com o Cazaquistão e Ronaldo, lançado então por Scolari, passou a CR7, a timidez deu lugar à vanglória de líder, o jogador-promessa é agora um dos melhores do mundo e luta pela Bola de Ouro, a segunda da sua carreira. Hoje, com a Irlanda do Norte, Ronaldo faz o jogo 100 pela selecção.

Ainda mais para trás, no início do ano de 2001, Ronaldo era considerado uma das jóias mais valiosas do Sporting e foi chamado para a estreia na selecção sub-15. O seleccionador dessa equipa, Carlos Dinis, lembra-se de ver o “miúdo traquinas” sem respeito pelas “indicações tácticas” a trautear o hino. “A primeira coisa que me vem à cabeça dessa data é o Cristiano a ensaiar o hino”, conta ao “DN”. As etapas nas selecções mais jovens queimou-as a um ritmo alucinante e, em dois anos, Ronaldo, que deve o seu nome ao antigo presidente do EUA Ronald Reagan, estava a estrear-se na formação principal.

Para chegar ao jogo 100, Luís Figo lembra, do alto de ser o mais internacional dos jogadores portugueses - 127 jogos pela selecção, quando abandonou há seis anos (1991-2006) -, os “sacrifícios e alegrias” por que Ronaldo passou. “É um número redondo, atrás do qual se escondem muitos sacrifícios, muitas alegrias, a expectativa de alcançarmos sempre os nossos objectivos”, destaca Figo, que não tardará muito a ver-se ultrapassado pelo actual jogador do Real Madrid.

Ronaldo tem uma média de 11 jogos por ano, pelo que precisará de pouco mais de dois anos para bater o antigo capitão da selecção. CR7, com 27 anos, é o primeiro em Portugal a atingir as 100 internacionalizações antes dos 30 anos. Luís Figo e Fernando Couto, este com 110 jogos pela selecção, são os únicos a atingirem a fasquia da centésima internacionalização, ainda que os dois antigos jogadores o tenham conseguido numa fase muito mais adiantada das respectivas carreiras: o médio contava 31 anos e o defesa já tinha ultrapassado os 34.

O avançado do Real Madrid já tinha sido o mais jovem a atingir as 50 internacionalizações, com 22 anos, substancialmente menos do que o anterior recordista, precisamente Figo, que tinha atingido a marca aos 26 anos. “A marca de Ronaldo é um sinal das suas qualidades e de uma enorme vontade em representar Portugal”, enfatiza Figo.

Fernando Couto foi o primeiro a chegar aos 100 jogos com o emblema da selecção. Mas nem por isso sente rivalidade, nem foi assim com Figo, nem o é agora com Ronaldo. “Os recordes são para bater”, diz, apontando para os números de CR7. Paulo Bento disse ontem, em tom profético, que irá ultrapassar os jogos de Figo e os golos de Pauleta. Ronaldo é o terceiro melhor marcador de sempre da selecção, com 37 golos, atrás de Eusébio (41) e do avançado açoriano (47).

Desafio com ele próprio

“Ele bate todos os recordes, porque não haveria de bater o meu?”, perguntava em Junho deste ano Pauleta, o avançado que fez toda a sua carreira sem nunca ter experimentado a principal Liga portuguesa e chegou ao topo dos marcadores pela selecção. “O meu recorde está em perigo desde que Ronaldo está em competição. Neste momento sou o melhor marcador da selecção e de certeza absoluta que o Cristiano vai ultrapassar-me, isso só me deixa satisfeito”, declarou.

Foi a 20 de Agosto de 2003, num particular em Chaves, que Ronaldo vestiu pela primeira vez a camisola da selecção. “Foi um dos momentos mais marcantes da minha vida e um percurso que muito me orgulha pelo que todos juntos, conseguimos”, escreveu o avançado na sua página do Facebook. O jogador que nesse dia de Verão entrou depois do intervalo para enfrentar o Cazaquistão era alguém ansioso que queria mostrar o potencial que tinha.

“Não parava, os jogadores mais velhos diziam-lhe para ele respirar um pouco, porque eram constantes os ‘sprints’ e os piques que fazia”, lembra Carlos Godinho, director desportivo da FPF, a “O Jogo”. Cansava-se porque queria mostrar o valor que tinha.

António Simões não tem dúvidas que irá bater todos os recordes e estatísticas. E diz que agora o desafio é outro: com ele próprio. “Com tudo o que se passou na sua vida, com momentos não muito simpáticos, pequenas falhas de personalidade através de um perfil um pouco egoísta, possa ele fazer com que, não apenas tenha feito história, mas que fique na história”, diz o ex-internacional (46 jogos e 3 golos pela selecção). Fala de um reajustamento ao comportamento, à sua maturidade. “Este é o momento.”

O momento é simbólico e é já com a Irlanda do Norte, num jogo de apuramento para o Mundial 2014. Hoje, Ronaldo volta ao Estádio do Dragão, palco onde comemorou o seu primeiro golo pela selecção. E aqui vai tornar-se o terceiro europeu mais jovem a chegar às 100 internacionalizações, atrás do alemão Podolski e do estónio Viikmae.


As primeiras de CR7

1.º jogo Cazaquistão, 20 de Agosto de 2003
1.º estádio Chaves, 20 de Agosto de 2003
1.º jogo oficial Grécia, 12 de Junho de 2004
1.º vez titular Grécia, 12 de Junho de 2004
1.º cartão Holanda, 30 de Junho de 2004
1.º penálti Irão, 17 de Junho de 2006
1.º vez capitão Brasil, 6 de Fevereiro de 2007
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