Merkel visita a Grécia, que só tem dinheiro para sobreviver até Novembro

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A chanceler e Samaras encontraram-se em Berlim, no final de Agosto Foto: AFP/Guido Bergmann/Bundesregierung

É a primeira deslocação da chanceler a Atenas no espaço de três anos; negociações com a troika continuam a arrastar-se.

Já não era sem tempo, como se apressou a afirmar o líder do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker. A chanceler alemã, Angela Merkel, vai visitar Atenas na próxima terça-feira, mas não consta que leve na mala o desbloqueamento de uma nova tranche da ajuda internacional para o país do euro que só tem dinheiro para sobreviver até ao final de Novembro.

O anúncio da deslocação de Merkel, a primeira nos últimos três anos – ou seja, desde que a Grécia entrou em crise profunda –, foi feito ontem pelo porta-voz da chanceler. Steffen Seibert afirmou que se trata de uma visita normal, sem avançar detalhes da conversa que a líder da maior economia do euro terá com o primeiro-ministro grego, Antonis Samaras.

Mas nos corredores da diplomacia não restam dúvidas de que Merkel tentará dar um empurrão no sentido de fazer avançar as negociações entre o Governo helénico e a troika sobre o novo programa de austeridade a aplicar no país. Os representantes dos credores internacionais regressaram a Atenas no início da semana, mas até ao momento não são conhecidos avanços na definição do plano de cortes estimado em 11,5 mil milhões de euros.

Esta condição é fundamental para que a Grécia possa sobreviver no futuro próximo. Ontem, em entrevista a um jornal económico alemão, o Handelsblatt, Antonis Samaras revelou que o dinheiro nos cofres do Estado só é suficiente para pagar as despesas até ao final de Novembro. Se a tranche de mais de 30 mil milhões de euros do empréstimo internacional não chegar entretanto, o país entra numa situação de suspensão de pagamentos.

Na entrevista, o primeiro-ministro helénico carregou nos tons: "Mais de metade dos jovens caiu no desemprego, a pobreza cresce e cada vez mais pessoas dependem da Igreja e da caridade para terem uma refeição quente." Samaras afirmou também que "a democracia grega enfrenta talvez o maior desafio de sempre. A população chegou ao limite", referiu antes de comparar a tragédia grega à República de Weimar – o regime que substituiu a Alemanha imperial, mas que, num pico brutal de desemprego e crise económica, acabou por sucumbir ao nazismo.

Samaras visitou Berlim no final de Agosto, quando a crise do euro pareceu recrudescer com o agravamento da situação espanhola e o impasse nas negociações para o novo plano de resgate grego. Merkel, que não goza de uma boa imagem da Grécia, aproveitou a oportunidade para se comprometer com a procura de uma solução para a nação helénica.

Num outro epicentro da crise do euro, Espanha, o dia de ontem foi passado com novos desmentido de que o país estivesse na iminência de pedir um resgate financeiro, isto apesar de se juntarem dúvidas de que seja possível ao executivo de Mariano Rajoy cumprir a meta do défice para este ano.

Ontem, uma fonte oficial da Comissão Europeia negou os rumores de que o pedido de auxílio de Madrid pudesse avançar ainda este fim-de-semana, num quadro em que o próprio governador do Banco de Espanha põe em causa as metas do Governo Rajoy.

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