Abstenção do PS é recusa do desastre e do vazio

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Assis fez a mais longa intervenção do PS no debate Foto: Nuno Ferreira Santos

A abstenção do PS nas moções de censura do BE e PCP que esta quinta-feira estão a ser discutidas no Parlamento tem uma dupla afirmação: “Recusar o caminho que conduz ao desastre e um caminho que não se sabe para onde nos leva”, justificou Francisco Assis.

“Porque é que o PS não colabora nestas moções de censura? Já sabíamos que nenhuma tem força suficiente”, afirmou o deputado socialista, lembrando que no actual contexto qualquer moção de censura “tem uma noção simbólica”.

“Votamos uma vez mais responsavelmente pela abstenção”, avisou Assis, falando numa dupla afirmação: “Há a recusa de um caminho que nos conduz ao desastre mas também de um caminho que não sabemos onde nos leva”.

Para o deputado socialista, estas duas moções não são apenas contra a política do Governo, mas também para “estabelecer uma demarcação entre a extrema esquerda e a esquerda parlamentar”. Estratégia que nem sempre tem dado bons resultados: “Foi por cometer esse erro que a extrema esquerda foi inútil à esquerda e muito útil à direita.”

Esta foi a justificação apresentada por Francisco Assis para justificar o voto “responsável” socialista. Num discurso inflamado – e aplaudido de pé por parte da bancada socialista -, o ex-líder parlamentar do PS reconheceu que apesar de o primeiro-ministro conseguir resistir facilmente às duas moções, corre “sérios riscos de não resistir a si próprio e aos desvarios do seu Governo”. Porque no país “se instalou a ideia de que o Governo falhou e que não é capaz de enfrentar dificuldades”.

As "insuficiências" do Governo

Assis lembrou as “condições políticas excepcionais”: uma maioria “que até há pouco tempo parecia estável e compacta”, um “país disposto a fazer sacrifícios de forma justa e equitativa”, e a colaboração “institucional do Presidente da República”. Mas esse património foi delapidado por “incompetência política, sectarismo doutrinário e arrogância tecnocrática”.

Com esta “marca”, foi o próprio Governo a afastar o PS. “Desperdiçou a possibilidade de, a partir do centro direita – com a nossa posição crítica, obviamente – de promover algumas reformas de forma séria e sistemática e com eficiência no país”, apontou Francisco Assis.

Para o socialista, chegou-se a “uma situação gravíssima e o Governo é a expressão dessas insuficiências”. E foi mais preciso. Paulo Portas, afirmou Assis, “andou muito tempo numa espécie de exílio”, o que tem desculpa, por ter a pasta dos Negócios Estrangeiros, ironizou. Porém, “com o sentido político que lhe conhecemos, preferia-se que aterrasse em Lisboa e influenciasse as decisões do Conselho de Ministros, mas preferiu aterrar no Porto na versão democrata-cristã e proferiu a primeira declaração fúnebre desta maioria”.

“Na verdade, este Governo merecia ser censurado e, na verdade, tem sido censurado. Quando o ministro dos Negócios Estrangeiros manifesta tantas reservas e divergências sobre uma medida, que não era lateral, mas era a essência, é um sinal de isolamento e de censura”, realçou Assis.

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