Legislativas desafiam domínio de Saakachvili na política da Geórgia

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Mikhail Saakashvili é acusado de abuso de poder pela oposição VANO SHLAMOV/AFP

Surpreendido pela crescente popularidade da coligação de oposição, a aliança O Sonho da Geórgia liderada pelo milionário Bidzina Ivanichvili, o Presidente tem feito soar as trompetas da "invasão russa", reforçando a retórica nacionalista e pró-ocidental que o catapultou para o Governo.

Em campanha, Ivanichvili, que fez a sua fortuna na Rússia, tem repetido que o problema do país tem a ver com o abuso do poder de Saakachvili, acusado de governar "ao estilo soviético", seguindo uma "política de perseguição e intimidação de activistas e líderes da oposição".

A campanha eleitoral tem sido dura e tensa, com milhares de pessoas na rua em manifestações inéditas: este fim-de-semana, as bancadas do maior estádio da capital, Tbilissi, com capacidade para 60 mil pessoas, encheram-se para um comício do partido do Presidente; no dia seguinte, uma manifestação organizada pela oposição terá reunido 100 mil apoiantes na maior praça da cidade.

O duelo entre o Presidente e o seu rival conheceu o ponto mais alto com a divulgação, por duas estações de televisão controladas pela oposição, de imagens explícitas de tortura e abusos sexuais na prisão de Gldani. O escândalo permitiu a Ivanishvili reforçar o seu argumento de que a "fachada democrática" do Governo não passa de um logro.

Pouco depois, os telespectadores tiveram acesso ao vídeo de um familiar de Ivanichvili a oferecer um suborno a dirigentes governamentais. Foi a vez da campanha do Movimento de Unidade Nacional alegar que a oposição é formada por corruptos.

O novo Parlamento que sair da votação de hoje terá a responsabilidade de escolher o futuro primeiro-ministro do país, com poderes reforçados após uma revisão constitucional ter consagrado a mudança do regime presidencial para uma república parlamentar em 2013 (ano em que termina o mandato de Saakachvili).

O desfecho permanece imprevisível, apesar da última sondagem, realizada pela empresa alemã Forsa, colocar a coligação O Sonho da Geórgia na liderança, com 65% contra 25% do Movimento de Unidade Nacional, claramente prejudicado pelo caso de tortura nas prisões. Números de Agosto do Instituto Nacional Democrático apontavam um quadro inverso, com o partido de Saakachvili na frente, com 37%, e a aliança da oposição nos 12% (havia 43% de indecisos).

Diplomatas e observadores internacionais alertam para o potencial de "confusão" pós-eleitoral e "problemas" de segurança se a oposição cumprir a ameaça de impugnar a eleição em caso de derrota. "Já temos provas mais do que suficientes para concluir que as eleições vão ser fraudulentas e roubadas. Não precisamos de esperar pelo dia 1 de Outubro para chegar a essa conclusão", declarou Bidzina Ivanichvili à revista americana Foreign Policy.

Pressão sobre os EUA

A campanha de Bidniza Ivanichvili tem feito um considerável esforço de lobby junto do Governo dos Estados Unidos, com artigos de opinião publicados na imprensa norte-americana a apresentar a tese de que a Geórgia poderia ser a "surpresa de Outubro" que baralha as contas da corrida presidencial disputada entre Obama e Romney.

No Verão de 2008, a Geórgia envolveu-se num breve conflito armado com a Rússia, que invadiu o território da Ossétia do Sul em apoio àquela região separatista - um episódio que foi aproveitado pela campanha do candidato republicano John McCain, um amigo de Saakashvili, para defender uma posição mais dura de Washington contra Moscovo. Este ano, o Presidente da Geórgia volta a contar com o apoio do conservador Mitt Romney, que designou a Rússia como o principal adversário geopolítico dos EUA.

A oposição tenta pressionar o Congresso e o Presidente Barack Obama a declarar a ilegitimidade do processo eleitoral. "Se a Administração não intervier rapidamente, a sua inacção será lida como um apoio tácito à fraude eleitoral de Saakachvili. A Geórgia corre o risco de explodir em violência antiamericana", escreveu o professor da universidade de Columbia Lincoln Mitchell, um representante da oposição nos EUA.

O próprio Ivanichvili publicou um artigo no The Wall Street Journal, no mês passado, onde dizia que "o Cáucaso pode vir a experimentar um conflito sectário semelhante ao que decorre na Síria. Com a Rússia e o Irão à nossa porta, esse é um risco que ninguém quer correr".

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