Ajustamentos nas economias em dificuldades “vão levar muitos anos”

Foto
Olivier Blanchard diz queainda é cedo para avaliar resultados na Grécia e na Irlanda. Tyrone Siu (Reuters)

Os ajustamentos nas economias europeias que recebem ajuda internacional vão “levar muitos anos”, dada a difícil situação orçamental e macroeconómica que enfrentam, alerta Olivier Blachard, do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard.

Na conferência de imprensa para apresentar o relatório sobre o “Panorama Económico Mundial”, Olivier Blanchard, o economista-chefe do FMI, defendeu que é “muito cedo” para fazer uma avaliação do resultado dos programas de ajuda à Grécia e à Irlanda, que têm sido criticados a nível interno.

“É muito importante perceber que a Irlanda, Grécia e Portugal têm um trabalho muito difícil a fazer ao nível orçamental e macroeconómico. Vai levar muitos anos. Não é ao fim de seis meses que podemos julgar se vão funcionar ou não”, disse o director do departamento de pesquisa do FMI.

Blanchard sublinhou ainda que os programas de ajuda à Grécia e à Irlanda tiveram como premissa que estes países iriam “honrar as suas dívidas”, ou seja, que não iriam falhar os pagamentos aos credores externos ou exigir renegociação dos pagamentos.

“Estes programas baseiam-se na assunção de que os créditos serão restituídos”, sublinhou, quando questionado sobre a possibilidade de haircuts aos credores externos dos países em dificuldades financeiras, ou seja, reembolsando em menor grau os investimentos.

Sobre as taxas de juro a que a ajuda externa tem sido concedida, Blanchard reconheceu que estes programas “têm sido muito bons negócios para os países que emprestaram” e que “seria muito útil fazer todo o possível para reduzir taxa de juro que pagam” os países como a Irlanda e Grécia.

Sobre a situação na Espanha, Blanchard sublinhou que “tomou medidas significativas” para evitar o alastramento da crise, mas admitiu uma continuação da quebra dos preços do imobiliário.

“Neste momento achamos que [o governo espanhol] está a fazer as coisas certas”, como reformas do mercado laboral e reestruturação das cajas, duramente afectadas pela quebra dos preços imobiliários.

Para Blanchard, “há algum caminho a percorrer nos preços do imobiliário enquanto risco negativo” para a economia espanhola, mas os bancos do país vizinho “podem suportá-lo sem ter problemas sérios.

“É concebível que os preços do imobiliário possam descer mais”, disse o economista chefe do FMI.

Também ao nível dos mercados, sublinhou, está a ser feita uma destrinça entre a Espanha, menos penalizada ao nível das taxas de juro nos mercados financeiros, e as outras três economias que já recorreram a ajuda externa.

Mas também no caso da Espanha, disse, “vai levar muitos anos até as coisas estarem bem”.

O ‘Panorama Económico Mundial’ hoje divulgado pelo FMI, aponta para um crescimento de 2,4 por cento nas economias desenvolvidas este ano e 2,6 por cento no próximo, muito abaixo do ritmo das economias dos países em desenvolvimento: 6,5 por cento em 2011 e 2012.

Portugal será a única das economias periféricas da zona euro em recessão no próximo ano, apresentando também os défices das contas públicas mais elevados, segundo as previsões.

Sugerir correcção
Comentar