Zeinal Bava, o rosto do negócio milionário da venda da Vivo

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Zeinal Bava Foto: Miguel Manso

O presidente executivo da Portugal Telecom é o rosto do negócio milionário que foi a venda da Vivo. E é graças à PT que o Governo manterá este ano o défice nos 7,3 por cento.

Quem é?

Zeinal Bava é o CEO da Portugal Telecom (PT), uma das maiores empresas nacionais, cargo para o qual foi escolhido em Abril de 2008, substituindo Henrique Granadeiro (hoje presidente não executivo). Foi reeleito em Março de 2009, para um mandato que termina em 2011.

De seu nome completo Zeinal Adebin Mohamed Bava, o gestor de 45 anos nasceu em Moçambique, tendo vindo para Portugal em 1975.

Filho de uma família muçulmana sunita, aos 14 anos foi para um colégio interno em Inglaterra, após uma passagem pelo elitista St. Julians, em Carcavelos. Chegou a pensar em enveredar pela Medicina, mas licenciou-se em Engenharia Electrónica e Electrotécnica na University College London.

A partir daqui iniciou a sua carreira profissional, tendo passado pela ex-Arthur Andersen, banco Efisa, Warburg Dillon Read, Deutsche Morgan Grenfell e Merrill Lynch, estando vários anos fora do país. Entrou para a PT em 1999, numa fase de reprivatização da empresa e de maior atenção ao mercado de capitais.

O que fez?

Zeival Bava herdou o trono de uma empresa que estava habituada a ser rainha, mesmo com a liberalização do mercado, mas que perdeu boa parte da sua fonte de riqueza quando a TV Cabo saiu da sua esfera e, através da Zon, se posicionou como concorrente. Manteve a liderança no fixo, móvel e banda larga em Portugal, e tem conseguido ganhar terreno na televisão paga.

Depois de um arranque mais tremido, a forte aposta na fibra (e na marca Meo, que absorveu o humor dos Gato Fedorento) tem-lhe permitido conquistar quota de mercado neste segmento, passando de 10 por cento em Setembro de 2008 para perto dos 30 por cento em Setembro de 2010.

Acusada por vários concorrentes de ainda ter tiques de monopolista, a PT tem enfrentado diversas queixas na forma como actua no mercado, mas sorriu na semana passada quando o Tribunal da Relação de Lisboa confirmou a sua absolvição numa acusação da Autoridade da Concorrência. Em 2007, a instituição reguladora tinha condenado a PT a pagar uma multa recorde de 38 milhões de euros por abuso de posição dominante no acesso a infra-estruturas essenciais.

Concentrando o olhar em 2010, Bava, que tem conseguido gerir o equilíbrio de poderes entre gestão e accionistas, teve tudo menos um ano típico. Além de toda a turbulência dos mercados (à qual a PT tem mostrado resistência), o gestor começou por uma visibilidade indesejada ao ter de depor, em Abril, na comissão de inquérito formada no Parlamento para explicar a tentativa de compra de cerca de 30 por cento da TVI aos espanhóis da Prisa, um negócio que assumiu contornos políticos por suspeitas de intervenção do Governo.

Depois veio a ofensiva espanhola. A Telefónica quis resolver de uma vez por todas a questão da Vivo, líder nas telecomunicações móveis do Brasil e que partilhava com a PT, abrindo os cordões à bolsa.

Por que o escolhemos?

A escolha de Zeinal Bava torna-se inevitável quando se olha para a dimensão do negócio pelo qual deu a cara, ao lado de Henrique Granadeiro. Em termos puramente financeiros, foi o negócio mais valioso de sempre (5,5 mil milhões este ano, mais dois mil milhões em 2011), principalmente se tivermos em conta que se trata de uma participação minoritária.

Mesmo assim, o gestor ainda considera que foi a Telefónica que comprou a Vivo, e não a PT que vendeu. Se, como disse Bava publicamente no final de Julho, "a Vivo é o passado, a Oi é o futuro", o certo é que, independentemente do encaixe financeiro, este não foi um negócio que escolhesse por sua livre iniciativa. Serviu, no entanto, para demonstrar a sua capacidade de resiliência, e manter o discurso afinado às circunstâncias.

Bava protagonizou ainda dois episódios que o destacaram neste ano, ambos ligados ao actual executivo: a transferência do seu fundo de pensões para a esfera pública e o pagamento de dividendos excepcionais aos accionistas.

O que podemos esperar dele?

Esperam-se várias coisas de Zeinal Bava, a começar pela manutenção do crescimento da empresa e dos postos de trabalho. O gestor quer que a empresa deixe de pensar em termos de mercado interno e externo, focando-se antes nas áreas de negócio, mas os desafios são diferentes conforme a geografia.

Em Portugal, a estratégia é continuar a desenvolver a rede de fibra óptica, chegando a 1,6 milhões de casas. Depois, 2011 será o ano da 4.ª geração para telecomunicações móveis, com o regulador, a Anacom, a lançar um leilão da frequência disponível até ao final de Junho. A PT é candidata óbvia, tendo que se concentrar nos investimentos necessários.

No Brasil, o principal desafio de Bava será a entrada no capital da Oi até Abril. Esta é uma empresa menos ágil do que a Vivo, que os gestores da PT não conhecem bem, com o poder dividido entre vários accionistas e um lugar modesto no mercado das telecomunicações móveis. Outro desafio é a expansão geográfica em África, para a qual, agora com o balanço fortalecido, tem armas para um posicionamento mais agressivo, embora a concorrência continue a crescer.

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