Críticas de Saldanha Sanches ao Estado lembradas no lançamento do livro “Justiça Fiscal”

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Saldanha Sanches ditou as últimas partes do livro nos dois dias antes de morrer Enric-Vives Rubio

As denúncias do fiscalista Saldanha Sanches ao dinheiro mal gasto pelo Estado e à corrupção foram hoje reiteradamente lembradas por familiares e figuras públicas.

O dinheiro mal gasto pelo Estado, por exemplo em “auto-estradas supostamente sem custos e sem carros”, e as “reformas milionárias” eram denúncias frequentes de Saldanha Sanches, recordadas no lançamento da sua última obra, publicada já depois da sua morte, por João Taborda Gama, que colaborou na elaboração do livro.

João Taborda Gama lembrou a “obsessão” de Saldanha Sanches pela liberdade, suportada na justiça fiscal, expressão que dá titulo ao livro, e num “Estado que não seja refém dos ricos, do lobby e dos corruptos”.

“Esperemos que seja ouvido nestes tempos conturbados”, disse, considerando “bem significativo que o último trabalho que nos deixa seja ´Justiça Fiscal´”.

António Barreto, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, lembrou, além da sua “incansável luta contra a corrupção”, a sua “honestidade, rara nos tempos que correm”.

Barreto diz que “recomendaria” aos políticos e dirigentes que lessem o livro “com alguma serenidade”, por se tratar de um tema “muito actual”.

No agradecimento público aos que estiveram na homenagem, aos que ajudaram ao lançamento do livro e até “à sua elaboração para além da última hora”, Maria José Morgado, viúva de Saldanha Sanches, testemunhou a luta do fiscalista “por um sistema fiscal justo e contra a corrupção do Estado”.

Maria José Morgado disse que a obra é “um testamento colectivo de honestidade, integridade e dedicação à causa pública”, de alguém que se reformou “com 1900 euros por mês”.

Já em declarações à margem do evento, Jorge Miranda, constitucionalista e um dos oradores na apresentação da obra, lembrou que Saldanha Sanches também alertava para a demagogia de que tudo se pode alterar mudando a lei.

“A distribuição justa da riqueza está contemplada na Constituição”, afirmou Jorge Miranda, questionado sobre a justiça fiscal que a proposta de Orçamento do Estado para 2011 contém, insistindo na necessidade de que “o imposto seja progressivo”.

“Se as pensões de cinco mil euros vão pagar imposto de dez por cento, é preciso saber quanto vão pagar as de 50.000”, exemplificou.

Saldanha Sanches acabou de ditar as últimas partes do livro a João Taborda Gama e António Araújo nos dias 12 e 13 de Maio e depois mandou mensagens pessoais, através da Maria José Morgado, até morrer, no dia 14 de Maio, aos 66 anos.

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