Fábrica de iogurtes de Castelo Branco entre as cinco melhores da Danone no mundo

Uma fábrica de iogurtes cheira a fruta e a leite. As temperaturas oscilam entre o frio e o quente e as enormes máquinas de inox, que em segundos fabricam milhões de toneladas de produtos lácteos, deixam escapar um barulho ensurdecedor. Garrafas e copos de iogurtes seguem apressados. Em segundos, passam de embalagens brancas e vazias a produto etiquetado, marcado, pronto a seguir para o supermercado.

Vêem-se poucos trabalhadores na unidade de Castelo Branco da Danone, a multinacional de origem francesa mais conhecida pelos iogurtes, mas que também inclui no seu grupo de empresas o negócio das águas (Evian) ou produtos de nutrição infantil (Milupa e Blédina, por exemplo).

Nos últimos dois anos, um investimento de cinco milhões de euros, que ficou concluído em Março, deu novo impulso à fábrica portuguesa, uma das 49 a nível mundial da Danone. Passou a produzir iogurtes líquidos para abastecer totalmente o mercado português deixando, assim, de depender de outras unidades neste produto.

Para além disso, o aumento da capacidade de produção em 40 por cento permitiu estrear a empresa na exportação para o mercado europeu: 12,5 por cento do volume já segue para Espanha e Bélgica.

"Antes do investimento, a capacidade de produção, nomeadamente de iogurtes líquidos, era mais reduzida e não era possível exportar. Existiam cinco linhas de produção e agora existem quatro. A diferença é que se optimizaram três e uma de líquidos foi substituída por outra de maior dimensão", diz Michel Bruno Fromage, director-geral da Danone Portugal.

O investimento foi determinante para melhorar os resultados da fábrica, numa altura em que o mercado dos lácteos - em Portugal vale 500 milhões de euros - estagnou em valor. Michel Fromage acredita que há ainda muito espaço para crescer, sobretudo, porque o consumo por pessoa é de 21 quilos por ano, ainda abaixo de países como a Holanda e a França (36 e 38 quilos). Com a nova estrutura da fábrica e evolução tecnológica, o quadro de pessoal foi redimensionado. Entre 2009 e este ano foram dispensados 30 trabalhadores de um total de 127 nos quadros. "Para além de uma compensação superior à prevista por lei, disponibilizámos serviços de outplacement", aponta Michel Fromage, sublinhando que alguns funcionários despedidos estavam em situação de pré-reforma.

Ao equipar a unidade de Castelo Branco (única em Portugal - Espanha tem seis), a Danone garantiu a sustentabilidade da estrutura a médio e longo prazo "directa e indirectamente, continuando a ser o maior pólo industrial da Beira Interior". O director-geral recusa a ideia de que a fábrica estava em risco de perder competitividade: "Faz parte da nossa visão como empresa preocuparmo-nos com o futuro e investirmos na melhoria da competitividade."

O iogurte começa no leite. Todos os dias são entregues em Castelo Branco 130 mil litros, valor que chega a duplicar no Verão, diz Carlos Antunes, director industrial. O leite é oriundo de 23 produtores portugueses e recebe um primeiro tratamento assim que é descarregado dos camiões-cisterna.

Dentro da fábrica, numa pequena sala com computadores, o sistema automático controlado por um trabalhador a cada turno calcula as quantidades de gordura, proteína, açúcar, cálcio ou vitamina indicadas na receita (há 16). Já com a composição escolhida, o leite é armazenado em frio, em enormes cubas de inox. O centro nevrálgico é a sala de processo. "É aqui que o produto é pasteurizado, homogeneizado e é introduzido o fermento", diz Carlos Antunes. Dá-se a transformação do leite em iogurte. As frutas são adicionadas na fase final. Para trabalhar numa divisão como esta, os trabalhadores recebem formação contínua em temas tão diversos como tecnologia do iogurte. Em Castelo Branco também está instalado o laboratório de investigação e desenvolvimento, que lançou o Densia Líquido para o mercado.

Na linha de fabrico e montagem, Carlos Antunes enumera uma extensa lista de fornecedores portugueses com quem a Danone trabalha. As tubagens de onde o iogurte passa directamente para as embalagens são da Metalúrgica Progresso, a Logoplaste assina as cerca de 700 mil garrafas de iogurte líquido que todos os dias são enchidas e os gigantes rolos de plástico usados para dar forma ao copo de iogurte são da Interplás, de Santo Tirso.

As máquinas, todas de fabrico europeu, substituem os braços humanos, num processo sofisticado e limpo, automático. Para quatro linhas de produção que trabalham 24 horas por dia, cinco dias por semana, são precisos apenas quatro operadores (um para cada).

Carlos Antunes termina a visita na câmara frigorífica onde estão menos de seis graus. Trabalha há 20 anos naquela unidade, onde começou como chefe de turno do laboratório. No final, desfaz as dúvidas: a data de validade de um iogurte é mesmo para cumprir. Mas entre tê-lo duas horas fora do frio e comê-lo um dia depois do prazo final, é preferível optar pela última hipótese.

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